PSE na individualização do treinamento?
- Postado por Guilherme Tucher
- Categorias Notícias, TOP - Natação, TOP - Treinamento Esportivo
- Data 19 de janeiro de 2023
- Comentários 0 comentário
No final de 2022 eu participei do II Simpósio Internacional Online de Ciências do Exercício e do Esporte organizado pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Eu recebi três perguntas que não foram respondidas por causa do tempo e esse vídeo é a resposta à pergunta 3.
Eu espero que a resposta chegue aos colegas que fizeram a pergunta.
PERGUNTA 3 – Matheus Barros: Tucher, a prescrição feita pela PSE pode ser considerada individualizada?
Matheus, eu não vejo a PSE como uma ferramenta para a prescrição direta do treinamento, mas como uma ferramenta de quantificação e de monitoramento do treinamento (da carga do treinamento).
Eu a vejo como uma ferramenta de confirmação se aquilo que foi feito está coerente com o que foi prescrito; ou seja, com a intenção do treino. É uma forma de confirmação da intenção do treino.
É lógico que o processo de treinamento consiste em prescrever o treino, executá-lo e depois avaliá-lo (neste caso com a PSE). Assim, dependendo da resposta do atleta a sessão de treino, quantificada por meio da PSE, pode ser que isso influencie na sessão seguinte.
ENTENDA O SEGUINTE!
Vamos imaginar dois atletas que realizam exatamente o mesmo treinamento – em termo de carga externa, e que tem respostas/percepções agudas diferentes a uma determinada sessão – carga interna.
Entretanto, um deles está dentro daquilo que você gostaria que tivesse acontecido; ou seja, dentro da proposta da carga de treinamento prescrita. O outro, por sua vez, achou a sessão muito mais fácil ou difícil.
Essa resposta diferente dos atletas não pode se dever a prescrição inadequada do treinamento? Ou seja, a PSE foi usada para confirmar o que foi feito, não para prescrever o treino.
A não ser que sejam casos extremos e de sucessivos erros de prescrição (onde o atleta percebe frequentemente o treino além ou aquém da intenção de prescrição), a PSE não influenciará na prescrição futura.
De qualquer maneira, voltando a sua pergunta, eu acredito que o ponto central esteja relacionado a “prescrição individualizada” do treinamento. Essa é a expressão principal.
PRESCRIÇÃO INDIVIDUALIZADA DO TREINAMENTO
Assim, eu entendo a prescrição individualizada do treinamento acontece quando você considera diversas outras variáveis, antes do treino acontecer, para que a prescrição seja a mais adequada possível.
Assim, o volume de treinamento de uma sessão, micro ou mesociclo; a intensidade e o ordenamento da carga de treinamento entre as sessões; o modelo de distribuição das zonas de intensidade ao longo do macrociclo, a duração do macro, meso e microciclos, o objetivo dos períodos e fases – e tudo o que você puder imaginar que o atleta deve fazer e desenvolver, são dependentes das suas características, das suas potencialidades, fragilidades, necessidades, experiência competitiva e de treino, da prova e do ambiente de competição, e da sua adaptação ao treinamento (e nesse caso poderia, até certo ponto, entrar a PSE – lembrando que ela é uma ferramenta de quantificação do treinamento e não de adaptação. Entretanto, em um quadro crônico de má adaptação, ela pode ser um indicativo) – por exemplo.
São essas informações, entre outras, que farão com que a prescrição do treinamento seja específica. Dando um exemplo bem grosseiro, se o atleta deve fazer 5 x 1000 m com intensidade A e descanso de 20 s ou 10 x 500 m com intensidade B e descanso de 45 s. Ou ainda, se um período deve ser de 2 ou 3 meses.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A PSE, ou qualquer outra ferramenta de monitoramento, mesmo as invasivas que envolvem coleta de sangue, serão utilizadas para monitorar o treinamento. Mas o que foi feito, foi feito. Elas em conjunto com outras variáveis, podem até contribuir com a prescrição.
Mas não entendo que só porque se usa a PSE que a prescrição do treino pode ser considerada individualizada.
Espero ter ajudado, Matheus.
SUGESTÃO DE LEITURA
BORRESEN, J.; LAMBERT, M. I. The quantification of training load, the training response and the effect on performance. Sports medicine, v. 39, n. 9, p. 779-795, 2009.
COYNE, J. O.; HAFF, G. G.; COUTTS, A. J.; NEWTON, R. U.; NIMPHIUS, S. The Current State of Subjective Training Load Monitoring—a Practical Perspective and Call to Action. Sports medicine-open, v. 4, n. 1, p. 58, 2018.
MUJIKA, I. Quantification of training and competition loads in endurance sports: methods and applications. International Journal of Sports Physiology and Performance, v. 12, n. Suppl 2, p. S2-9-S2-17, 2017.
SCHWELLNUS, M.; SOLIGARD, T.; ALONSO, J.-M.; BAHR, R.; CLARSEN, B.; DIJKSTRA, H. P.; GABBETT, T. J.; GLEESON, M.; HÄGGLUND, M.; HUTCHINSON, M. R. How much is too much?(Part 2) International Olympic Committee consensus statement on load in sport and risk of illness. British Journal of Sports Medicine, v. 50, n. 17, p. 1043-1052, 2016.
SOLIGARD, T.; SCHWELLNUS, M.; ALONSO, J.-M.; BAHR, R.; CLARSEN, B.; DIJKSTRA, H. P.; GABBETT, T.; GLEESON, M.; HÄGGLUND, M.; HUTCHINSON, M. R. How much is too much?(Part 1) International Olympic Committee consensus statement on load in sport and risk of injury. British Journal of Sports Medicine, v. 50, n. 17, p. 1030-1041, 2016.
WILLIAMS, S.; TREWARTHA, G.; CROSS, M. J.; KEMP, S. P.; STOKES, K. A. Monitoring what matters: a systematic process for selecting training-load measures. International journal of sports physiology and performance, v. 12, n. Suppl 2, p. S2-101-S2-106, 2017.
É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.