PSE na individualização do treinamento?

No final de 2022 eu participei do II Simpósio Internacional Online de Ciências do Exercício e do Esporte organizado pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Eu recebi três perguntas que não foram respondidas por causa do tempo e esse vídeo é a resposta à pergunta 3.

Eu espero que a resposta chegue aos colegas que fizeram a pergunta.

PERGUNTA 3 – Matheus Barros: Tucher, a prescrição feita pela PSE pode ser considerada individualizada?

Matheus, eu não vejo a PSE como uma ferramenta para a prescrição direta do treinamento, mas como uma ferramenta de quantificação e de monitoramento do treinamento (da carga do treinamento).

Eu a vejo como uma ferramenta de confirmação se aquilo que foi feito está coerente com o que foi prescrito; ou seja, com a intenção do treino. É uma forma de confirmação da intenção do treino.

É lógico que o processo de treinamento consiste em prescrever o treino, executá-lo e depois avaliá-lo (neste caso com a PSE). Assim, dependendo da resposta do atleta a sessão de treino, quantificada por meio da PSE, pode ser que isso influencie na sessão seguinte.

ENTENDA O SEGUINTE!

Vamos imaginar dois atletas que realizam exatamente o mesmo treinamento – em termo de carga externa, e que tem respostas/percepções agudas diferentes a uma determinada sessão – carga interna.

Entretanto, um deles está dentro daquilo que você gostaria que tivesse acontecido; ou seja, dentro da proposta da carga de treinamento prescrita. O outro, por sua vez, achou a sessão muito mais fácil ou difícil.

Essa resposta diferente dos atletas não pode se dever a prescrição inadequada do treinamento? Ou seja, a PSE foi usada para confirmar o que foi feito, não para prescrever o treino.

A não ser que sejam casos extremos e de sucessivos erros de prescrição (onde o atleta percebe frequentemente o treino além ou aquém da intenção de prescrição), a PSE não influenciará na prescrição futura.

De qualquer maneira, voltando a sua pergunta, eu acredito que o ponto central esteja relacionado a “prescrição individualizada” do treinamento. Essa é a expressão principal.

PRESCRIÇÃO INDIVIDUALIZADA DO TREINAMENTO

Assim, eu entendo a prescrição individualizada do treinamento acontece quando você considera diversas outras variáveis, antes do treino acontecer, para que a prescrição seja a mais adequada possível.

Assim, o volume de treinamento de uma sessão, micro ou mesociclo; a intensidade e o ordenamento da carga de treinamento entre as sessões; o modelo de distribuição das zonas de intensidade ao longo do macrociclo, a duração do macro, meso e microciclos, o objetivo dos períodos e fases – e tudo o que você puder imaginar que o atleta deve fazer e desenvolver, são dependentes das suas características, das suas potencialidades, fragilidades, necessidades, experiência competitiva e de treino, da prova e do ambiente de competição, e da sua adaptação ao treinamento (e nesse caso poderia, até certo ponto, entrar a PSE – lembrando que ela é uma ferramenta de quantificação do treinamento e não de adaptação. Entretanto, em um quadro crônico de má adaptação, ela pode ser um indicativo) – por exemplo.

São essas informações, entre outras, que farão com que a prescrição do treinamento seja específica. Dando um exemplo bem grosseiro, se o atleta deve fazer 5 x 1000 m com intensidade A e descanso de 20 s ou 10 x 500 m com intensidade B e descanso de 45 s. Ou ainda, se um período deve ser de 2 ou 3 meses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A PSE, ou qualquer outra ferramenta de monitoramento, mesmo as invasivas que envolvem coleta de sangue, serão utilizadas para monitorar o treinamento. Mas o que foi feito, foi feito. Elas em conjunto com outras variáveis, podem até contribuir com a prescrição.

Mas não entendo que só porque se usa a PSE que a prescrição do treino pode ser considerada individualizada.

Espero ter ajudado, Matheus.

 

SUGESTÃO DE LEITURA

BORRESEN, J.; LAMBERT, M. I. The quantification of training load, the training response and the effect on performance. Sports medicine, v. 39, n. 9, p. 779-795, 2009.

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WILLIAMS, S.; TREWARTHA, G.; CROSS, M. J.; KEMP, S. P.; STOKES, K. A. Monitoring what matters: a systematic process for selecting training-load measures. International journal of sports physiology and performance, v. 12, n. Suppl 2, p. S2-101-S2-106, 2017.

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