Periodização Tradicional: possíveis conflitos

Introdução

Na última notícia publicada apresentei as principais características da Metodologia Tradicional de Periodização.

Para maiores esclarecimentos seria interessante uma leitura mais aprofundada sobre o assunto, obtendo inclusive, as sugestões de leitura indicadas.

A leitura de hoje trará a tona alguns dos possíveis conflitos teóricos presentes na Metodologia Tradicional.

São estes conflitos que teriam ocasionado propostas mais novas de periodização.

Possíveis conflitos: Periodização Tradicional

Deve ter ficado claro que o Modelo Tradicional prega uma variação das cargas de treinamento ao longo da periodização.

Os estímulos de treino são oferecidos em uma sequência considerada lógica: inicialmente estímulos gerais (cargas extensivas e predomínio do volume) e ao término, estímulos considerados específicos (cargas intensivas e predomínio da intensidade).

De qualquer forma, entretanto, busca-se o predomínio de um estímulo sobre o outro – independente da época do treinamento.

Nessa metodologia são desenvolvidos simultaneamente um conjunto amplo de habilidades(1).

Issurin (2010) cita como exemplo o desenvolvimento aeróbico geral, da força muscular, da resistência muscular, da coordenação geral, da velocidade geral e da tática – comuns no período preparatório de diversas modalidades esportivas.

O problema é que cada um desses estímulos de treino exige dos sistemas fisiológico, morfológico e psicológico adaptações diferentes e muitas vezes não compatíveis; causando certo conflito na resposta de adaptação(1).

Especificamente lidando com atletas em formação e em início de carreira essa variação constante nos estímulos de treino pode ser interessante por tornar o treino menos monótono e atrativo aos jovens.

Mas pensando nos atletas com maior experiência e nível de rendimento, este pode ser um obstáculo na melhora do seu desempenho(1).

Estímulos diferentes e com direção diversa de exigência podem gerar uma dificuldade de adaptação.

O resultado final é uma maior morosidade na melhora e progressão do desempenho.

Desde já pode-se considerar que este é um dos fatores considerados limitantes a manutenção da qualidade do treinamento para os atletas mais experientes.

Esta discussão me faz lembrar do princípio da treinabilidade: quanto mais treinado, menos treinável.

Para os atletas iniciantes e intermediários a maior parte dos estímulos, se ofertados ao mínimo coerentemente, trarão bons resultados.

Já os experientes necessitam, em grande parte, de estímulos específicos, intensos e unidirecionais.

Outro argumento usado contra a Metodologia Tradicional é sua incapacidade de preparar o atleta para participar de várias competições com elevado grau de rendimento ao longo da temporada.

Conceitualmente são possíveis um, dois ou três picos de rendimento(1).

Entretanto, sabe-se que o esporte de rendimento moderno é muito mais exigente quanto a participação em competições – seja com finalidade de rendimento, obtenção de premiação ou promoção de patrocinadores.

Finalizando

Dessa maneira, a necessidade do esporte de rendimento atual é contraditório as concepções da Metodologia Tradicional.

Esses e outros fatores acabaram contribuindo e gerando a necessidade de um modelo de periodização que atendesse as necessidades do esporte de rendimento moderno.

Entretanto, mesmo sabendo da grande aceitação destas novas concepções pelos técnicos e pela ciência do esporte, Kiely (2012)(2) argumenta que a base comum do Modelo Tradicional foi mantida.

E agora?!

Mas essa é uma discussão para a próxima postagem…

Até a próxima e bons treinos.

Prof. Guilherme Tucher (tucher@guilhermetucher.com.br)

Esse artigo foi publicado originalmente em 29 de agosto de 2013. Em função de sua relevância, foi novamente publicado em 14 de outubro de 2020

Sugestão de leitura:

1.  Issurin V. New horizons for the methodology and physiology of training periodization. Sports Medicine. 2010;40(3):189-206.

2.  Kiely J. Periodization paradigms in the 21st century: evidence-led or tradition-driven? International Journal of Sports Physiology and Performance. 2012(7):242-50.

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