Turmas heterogêneas – o que fazer!
- Postado por Guilherme Tucher
- Categorias Notícias, TOP - Natação
- Data 23 de maio de 2024
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PLANEJAMENTO DAS AULAS DE NATAÇÃO
PREPARAÇÃO ANTES DA AÇÃO
Esse texto é um material completar ao curso que ministrei no dia 18 de maio de 2024 na III Capacitação em Esportes Aquáticos do Insporte.
Nós estamos aqui para poder falar sobre planejamento no ensino da natação. Um assunto que é muito importante para todo professor de natação.
No dia do evento eu comecei a minha apresentação assim…
Alguns meses atrás o Roberto entrou em contato comigo me convidando para participar desse evento. É sempre um prazer e eu perguntei para ele qual seria o tema da minha apresentação. Ele me disse que era sobre planejamento.
Eu fiquei muito animado, porque é um tema que eu percebo ser de extrema importância para os professores de natação. Mas na verdade o desafio era muito maior. Ele queria que eu falasse sobre como conduzir uma aula para turmas heterogêneas, turmas onde os níveis ou as condições dos alunos são muito diferentes.
Primeiramente eu disse para ele que se isso estava acontecendo era justamente por uma falta de planejamento – tema do nosso encontro. Ele concordou, mas também destacou que essa realidade, das turmas serem heterogêneas, é muito comum nos clubes, academias e escolas de natação – e muitas vezes os professores precisam saber lidar com ela até as coisas melhorarem.’
Eu sei que ele tem razão por que também já passei por isso. Esse texto é, então, sobre como lidar com essa situação e sobre como evitar essa situação.
OBJETIVO DA APRESENTAÇÃO
Ao final da leitura desse material eu gostaria que vocês alcançassem os seguintes objetivos:
- Dominar estratégias que permitam que uma aula de qualidade seja ministrada para turmas com alunos de diferentes níveis; e
- Saber que existem meios de planejamento que podem elevar as suas aulas para um nível de excelência muito maior e que permitem minimizar as diferenças entre os alunos.
VAMOS COMEÇAR!
Condicionamento físico por meio da nataçãoEu tenho vários vídeos no meu canal do YouTube que falam sobre planejamento do ensino na Natação – desde o planejamento institucional até o da aula propriamente dita. Num desses vídeos, que está relacionado a montagem do plano de curso e que tem um bom número de visualizações, uma pessoa comentava sobre sua aula de natação (ele é um aluno).
Essa é a visão do aluno, não a do professor. Vamos ver como foi minha conversa com ele. Percebam como a discussão que teremos aqui é importante.
Eu possivelmente comentava alguma coisa no vídeo sobre o tempo necessário para se nadar 50 m. Ele escreveu: “50 m em 1 min e 30 s?! Não consigo!”
Ao ler, eu pensei que ele estivesse brincando, pois afinal de contas é um tempo relativamente fácil para quem tem uma técnica e condicionamento físico razoável. Mas na verdade ele queria dizer que isso era realmente difícil para ele.
E eu acredito nele, eu sei que pode ser.
É lógico que para entender melhor o que aconteceu e ser justo com o professor, também deveríamos ouvir a sua versão. Vamos supor que o professor estava fazendo o seu melhor, mas parece que ele trabalha com turmas com alunos de diferentes níveis… talvez ele não estivesse conseguindo lidar com essa situação. Que convenhamos, é realmente complicada.
O QUE VOCÊ VAI LER AQUI
Esse texto está dividido em duas partes. Primeiro você lerá sobre como ministrar uma aula de qualidade para turmas com alunos de diferentes níveis – esse é o caso que eu vou chamar de “o que fazer quando acontecer”.
Na segunda parte, mais brevemente, como vocês podem pensar sobre o planejamento na sua escola de natação, clube ou academia, de forma a elevar as suas aulas para outro nível de excelência – esse é o caso que eu vou chamar de “o que fazer para não acontecer”.
Então é como se tivéssemos dois momentos: (i) o que fazer quando acontecer e (ii) o que fazer para não acontecer.
PARTE 1 – O QUE FAZER QUANDO A CONTECER
Infelizmente, muitas vezes por questões financeiras, por falta de planejamento ou por qualquer outro motivo, nos vemos em situações nas quais precisamos atender alunos, em uma mesma aula, que tem níveis muito diferentes.
Isso já aconteceu comigo, quando eu trabalhava em um clube, e nunca foi uma situação confortável para mim. A gente dá um jeito e se vira nos 30, mas esse não é o ideal nem para o aluno e nem para o professor.
Por vezes eu percebo que o professor fica frustrado por não atender os alunos da maneira que eles precisavam e gostaria. Como consequência, a tendência é que alguns deles se sintam insatisfeitos e saiam da aula.
E não é isso que a gente quer. É tão difícil conseguir os alunos, não é mesmo? Todo mundo fica insatisfeito.
Essa combinação de alunos de diferentes níveis em uma mesma turma pode acontecer de diferentes maneiras. Em alguns casos nós podemos lidar mais facilmente, em outros, nem com um milagre.
Eu me lembro, por exemplo, que eu tive uma turma com uns 4-5 alunos, ainda bem que era uma turma pequena, que tinham crianças de 7-12 anos de diferentes níveis e uma adulta de uns 22 anos.
“Por sorte”, era uma mulher adulta que não sabia nadar, era uma pessoa paciente e adorava as crianças.
Ela fazia uma parte da AMA com eles, assim como a iniciação aos nados. Mas as coisas não aconteciam sempre do jeito que eu queria – por vezes ela precisava de mais atenção do que as crianças; mas como não podemos tirar os olhos delas, eu não conseguia garantir (sempre) um bom atendimento.
No caso dela, antes dela se matricular, eu fui bem sincero dizendo que aquela não seria a condição ideal. Que inclusive procurasse outro lugar, pois eu não tinha outro horário, mas ela queria muito fazer aula comigo.
E eu confesso que no final deu tudo certo. Mas nem sempre é assim e alguns dias foram realmente bem complicados.
Nesse mesmo clube, eu tinha um colega professor que trabalhava com crianças um pouco mais velhas, por volta dos 12-13 anos e que já estavam aprendendo os nados.
Mesmo assim, dentro desse grupo, as habilidades dos jovens eram, por vezes, muito diferentes. Geralmente eu percebia que ele ficava bem perdido por três motivos:
- alunos com mesma idade, mas diferentes níveis,
- falta de planejamento e
- horário diferente deles chegarem para o início da aula (alguns chegavam um pouco atrasado por causa da escola ou curso).
Uma vez ele veio me pedir ajuda e eu passei algumas sugestões para ele – todas relacionadas a planejamento e organização da aula. Algumas delas nós falaremos aqui.
Mesmo assim, não foi o suficiente. O processo de ensino é complicado, imprevisível até certo ponto; uma aula de natação é viva. Não é algo rígido ou morto.
Assim, você precisa sentir/perceber o que está acontecendo para poder tomar as melhores decisões e fazer os ajustes necessários para que os objetivos sejam alcançados. Esse será o seu diferencial enquanto professor.
Na UFRJ nós também passamos por isso, seja na disciplina de Prática da Natação, cujo objetivo é o de realmente ensinar os alunos a nadar; ou na disciplina de Fundamentos da Natação, pois os alunos já chegam a EEFD com habilidades e competências muito diferentes.
As propostas que eu vou apresentar para vocês não tem nos livros (ainda) ou em artigos. É baseado na minha prática, observação e, principalmente, reflexão sobre as coisas que já aconteceram comigo ou com outros colegas.
Por uma questão didática dessa nossa discussão, serão apresentados algumas “condições” e “estratégias de solução” separadamente, mas uma combinação entre elas é sempre possível.
Entenda o que está acontecendo na aula para que você possa tomar uma decisão melhor.
Vamos lá!
Eu separei 7 condições e estratégias diferentes de como lidar com essa situação que temos discutido (dos diferentes níveis dos alunos em uma mesma turma).
CONDIÇÃO 1:
O objetivo principal está no ensino da técnica e os alunos possuem habilidades técnicas diferentes
- Estratégia:
- Separar os alunos por grupos de similaridade de domínio técnico dentro da piscina. Cada grupo ficará em uma raia e as atividades técnicas serão específicas para cada raia. Se possível manter o mesmo objetivo da atividade e a mesma atividade em si. Você pode diferenciar os grupos pela distância que eles nadarão.
- Outra opção é tentar manter o mesmo objetivo entre as raias, mas cada grupo/raia fazendo a atividade que é adequada a sua característica/necessidade. O importante é que você os organize de um jeito que permita que você tenha adequado domínio da turma.
- Se não for possível passar a mesma atividade/objetivo, passar atividades completamente diferentes entre os grupos, mas organizando as paradas de uma forma que seja possível “dar atenção” a todos os grupos.
- A ideia é que geralmente, no todo da atividade, eles comecem e terminem mais ou menos ao mesmo tempo. A pausa será importante para receber orientação e descansar, pois, é uma atividade para a técnica.
- Exemplo:
- Alunos da raia 1: fazem 6 x 25 m. A cada 25 m eles devem parar para receber orientação do professor e descansar.
- Alunos da raia 2 fazem 8 x 25 m, também parando a cada 25 m para receber orientação e descansar. Pode ser que os alunos da raia 2 cheguem um pouco na frente, por isso receberão orientação primeiro. Mas dependendo da condição, as raias 1 e 2 podem receber orientação ao mesmo tempo. No final, os alunos da raia 2 farão um pouco mais do que os alunos da raia 1 porque se entende que ao longo das repetições eles precisarão de menos correções – mesmo que precisem do tempo de pausa para descanso.
- Alunos da raia 3 fazem 8 x 50 m, parando a cada 50 m para descansar e receber orientação.
- É difícil observar todo mundo ao mesmo tempo. Minha sugestão é que nas primeiras vezes você faça uma observação geral para ver os erros mais grosseiros e comuns – baseado na experiência do professor é até possível de prevê-los. Dê as primeiras orientações nesse sentido – orientações mais gerais. Depois tente observar 1-2 alunos ao mesmo tempo. Para esse erro, faça orientações/sugestões gerais (todos os alunos, pois pode ser que algum outro aluno tenha o mesmo erro ou se torna uma alternativa para fixar o acerto em quem já faz certo) e depois exatamente para os alunos que apresentaram o erro. Isso faz os alunos perceberem que estão sendo observados.
- A distância de nado é apenas uma sugestão é pode variar devido ao nível dos alunos. O tempo de descanso deve durar o tempo da intervenção do professor, mas podem ser utilizadas algumas das estratégias indicadas nas condições que vem a seguir.
CONDIÇÃO 2:
O objetivo principal está no condicionamento físico e os alunos NÃO estão bem condicionados
- Estratégia:
- A solução é uma proposta muito parecida com a anterior, mas agora a distância será determinada pelo nível técnico-físico dos alunos – ou seja, o quanto eles conseguem nadar sem parar.
- Mais uma vez a ideia é que eles comecem e terminem a atividade mais ou menos ao mesmo tempo. A pausa é mais importante para o descanso, pois não conseguem nadar muito mais do que aquilo que foi estabelecido. Você pode e deve fazer orientações de correção da técnica durante esse tempo de descanso – se necessário, mas esse não é o principal objetivo.
- Em todos os casos o descanso será indicado pelo professor, mas pode ser controlado pelo professor ou pelo aluno.
- O descanso indicado pelo professor pode ser fixo ou máximo.
- No “descanso fixo” os alunos devem descansar somente o que foi estabelecido. Se são 10 s, devem ficar apenas esse tempo na borda.
- No “descanso máximo” os alunos podem sair a qualquer momento, desde que não ultrapassem o descanso máximo. Se são 40 s, eles podem sair a qualquer momento, desde que não ultrapassem esse tempo. Assim, quem precisar descansar o mínimo ou o máximo estará correto e respeitando seu nível de condicionamento. Nesse caso o tempo de descanso pode variar entre as repetições.
- Quando o tempo de descanso é controlado pelo professor, entende-se que o professor está preocupado com uma melhor organização da atividade proposta. O tempo de saída pode ser só depois que todos terminarem a primeira volta (depois que todos fizeram os primeiros 25 m, por exemplo) ou quando todos de um subgrupo terminarem a primeira volta
- Vamos supor que em cada raia tem 4 nadadores. Como o início será determinado pelo professor, ele precisa de uma referência. Assim, ao apitar, por exemplo, começam os primeiros nadadores de cada raia. Os outros esperam pelo apito ou o colega passar por uma marcação pré-determinada – como o meio da piscina. Quando esses primeiros chegarem do outro lado o professor dará o sinal de partida novamente, facilitando a organização).
- Se o professor controlar o tempo por meio do “descanso máximo”, os alunos podem iniciar a nadar a qualquer momento antes do apito.
- Quando o tempo de descanso é controlado pelo próprio aluno fica mais fácil para o professor cuidar de outras coisas – como prestar atenção a técnica e indicar correções. Essa condição também pode ser a mais adequada quando os alunos saem em momentos diferentes da borda.
- Exemplos:
- Alunos da raia 1 devem fazer 10 x 25 m.
- Alunos da raia 2 devem fazer 5 x 50 m.
- Alunos da raia 3 devem fazer 2 x (1 x 50 + 1 x 75 m).
- Alunos da raia 4 deve fazer 3 x 100 m.
- A distância de nado é apenas uma sugestão é pode variar devido ao nível dos alunos. Nessa condição o condicionamento físico dos alunos não é muito bom, por isso a opção por distâncias menores. Quando o nível de condicionamento físico dos alunos for melhor é mais interessante optar pelas sugestões seguintes, como a de determinar o estímulo pela duração do tempo de nado.
CONDIÇÃO 3:
O objetivo principal está no conteúdo físico e os alunos estão bem condicionados
- Estratégia:
- Agora, devido ao melhor nível de condicionamento físico dos alunos, será determinada a duração do estímulo (tempo de nado) ao invés de uma distância fixa e pré-estabelecida. Essa proposta pode ser feita para qualquer tipo de estímulo: de velocidade, resistência de velocidade, potência aeróbica ou capacidade aeróbica.
- Aqui é importante ensinar os alunos a controlarem o próprio esforço/intensidade do estímulo. Dessa maneira será possível que eles nadem distâncias diferentes, mas respeitando suas características e atendendo a exigência do estímulo (e não seguindo o ritmo de outros alunos, não completando o tempo determinado ou parando a toda hora porque está muito intenso).
- Os alunos são separados pelos seus níveis nas diferentes raias e nadam rodando (vai e volta pela direita). Dependendo da duração do estímulo deve haver distância adequada entre os alunos para que o aluno que está na frente não atrapalhe o seguinte.
- Essa proposta é interessante porque ao se determinar a série por distância (ainda mais para séries longas), o tempo de término será muito diferente entre as pessoas. Por outro lado, ao se determinar a série pelo tempo de nado, ao terminar o tempo, o que se nadar estará certo.
- Dentro dessa proposta o início e o fim do tempo da série serão determinados pelo apito do professor.
- Exemplo para estímulo de velocidade:
- 4 x 10 s ID = 2 min / intensidade extrema.
- Exemplo para estímulo de resistência de velocidade:
- 6 x 30 s ID = 2 min / intensidade extrema.
- Exemplo para estímulo de potência aeróbica:
- 2 x 5 min ID = 45 s / intensidade severa
- Exemplo de estímulo de capacidade aeróbica:
- 1 x 10 min / intensidade moderada (limiar anaeróbico)
- 1 x 20 min / intensidade baixa
- * para esses estímulos contínuos a proposta é que os alunos nadem sem parar. Entretanto, se houver algum iniciante que ainda não consegue, pode ser permitido que ele pare toda vez que sentir necessidade, mas como já mencionado, ele deve ser capaz de nadar na intensidade compatível com o tipo de estímulo.
- * o interessante dessa proposta de se nadar por tempo é que os alunos conseguem perceber mais facilmente o progresso ao longo das aulas ao verificar que estão nadando maiores distâncias ou nadando de maneira mais confortável.
CONDIÇÃO 4:
O objetivo principal pode ser físico ou técnico. Nessa proposta os alunos farão atividade como um grupo único; em circuito.
- Estratégia:
- Agora será proposto um tipo de circuito na piscina. Cada raia significa uma atividade diferente, ou uma intensidade diferente, ou um volume diferente.
- A ordem de saída para o nado pode ser por ordem de velocidade de nado de cada aluno – os mais rápidos saindo na frente. De qualquer maneira, pode ser interessante garantir uma grande distância entre os alunos. Por exemplo, o segundo só sai depois que o primeiro nadar 25 m.
- Os alunos podem começar na raia 1 e progredirem para as raias seguintes, sendo que cada uma tem uma tarefa. Outra opção é permitir que os alunos escolham por qual raia (ou tarefa) vão começar e fazer em ordem auto selecionada.
- Mesmo assim, dentro dessa proposta, ainda é possível usar, diferenciar ou adaptar algumas das estratégias já apresentadas para as condições anteriores.
- Ao chegar na última raia do circuito o aluno pode repeti-lo a partir do seu início ou de trás para frente. Os mais condicionados podem passar mais vezes pelo circuito do que os menos habilidosos. O circuito também pode durar por um determinado tempo.
- Exemplo:
- Raia 1: 200 m nado crawl (ou 100 m para os menos habilidosos)
- Raia 2: 150 m pernada peito com prancha e cabeça alta.
- Raia 3: 300 m nado crawl com nadadeira (ou 150 m para os menos habilidosos).
- Raia 4: 100 m pernada costas com os dois braços estendidos para cima (ou 50 m para os menos habilidosos)
- Raia 5: 400 m nado crawl com palmar (ou 150 m para os menos habilidosos).
- Exemplo:
CONDIÇÃO 5:
O objetivo principal pode ser físico ou técnico. Com essa proposta os alunos terão mais liberdade para fazer a aula ou treinamento.
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- Estratégia:
- A atividade será passada em um quadro, em uma folha ou mesmo por mensagem (de celular) para cada aluno. A aula pode ser integralmente com essa proposta ou apenas parcialmente. Isso pode variar a partir da idade dos alunos e grau de independência em relação ao professor.
- Escrever a atividade que deve ser feita e os pontos de atenção técnicos/físicos em um papel ou quadro que ficará na frente dos alunos. As atividades podem ser diferentes para as raias e nível dos alunos – como já discutido. O professor pode transitar pela piscina para fazer as correções com mais liberdade.
CONDIÇÃO 6:
O objetivo principal está na técnica e vamos utilizar o estilo de ensino por avaliação recíproca
- Estratégia:
- Os alunos formam duplas ou trios. Propositalmente o nível de um aluno pode/deve ser superior ao de outro. No método de avaliação recíproca um aluno faz a atividade enquanto o outro observa para indicar suas considerações para a melhoria da técnica.
- Depois eles trocam de função. O professor observa toda a atividade, dando orientação a todos. O aluno que é melhor poderá auxiliar o menos habilidoso, devido suas melhores capacidades. Por outro lado, o contato do aluno menos habilidoso com o melhor vai favorecer que ele veja o movimento sendo realizado com mais qualidade.
CONDIÇÃO 7:
O objetivo principal pode ser físico ou técnico e a aula é dividida em dois momentos.
Dividindo a aula em duas partes. Nessa proposta o tempo de aula é dividido em dois momentos. No primeiro, que tem finalidade técnica, todos farão basicamente as mesmas atividades, pois se entende que as necessidades técnicas são comuns – quase não haverá diferenciação.
Entretanto, o segundo momento seguirá algumas das estratégias já apresentadas anteriormente, seja com o objetivo de continuar melhorando a técnica ou de condicionamento físico.
- Estratégia:
- Primeira parte: momento em que todos fazem atividades juntos, porque geralmente têm problemas e deficiências técnicas comuns. Não fazer diferenciação.
- Segunda parte: momento em que os alunos se separam em grupos por necessidades diferentes – porque realmente uns são melhores dos que os outros, principalmente na parte de condicionamento físico. Agora pode ser utilizada algumas das estratégias anteriores.
Nós vimos 7 condições e estratégias para poder controlar melhor a turma e atender as necessidades dos alunos quando seus níveis são muito diferentes. Agora vamos ver brevemente, o que podemos fazer para evitar essa condição e levar os nossos alunos e nossa aula a um nível maior de excelência.
PARTE 2 – O QUE FAZER PARA NÃO ACONTECER
Aquilo que nós precisamos fazer “para não acontecer” é justamente um adequado planejamento que leve em consideração os níveis de aprendizagem dos nossos alunos.
Dessa maneira, ao chegar no clube ou academia, os alunos farão algum tipo de avaliação diagnóstica para entrar no nível que é mais adequado a eles.
Ou seja, você oferecerá o melhor para o seu aluno, permitindo que as diferenças sejam mais sutis e que o professor consiga ministrar uma boa aula e garantir o progresso dos alunos. Mesmo assim entenda o seguinte, as diferenças sempre existirão.
Para que você faça esse planejamento você deve começar com os objetivos institucionais. Por que a sua Escola de Natação (EN) existe? A que público ela pretende atender?
De uma certa maneira, respondendo a essas perguntas, você terá os objetivos geral e específicos da sua EN. O objetivo geral será aquele que os alunos devem conseguir alcançar em longo prazo. Pode ser algo mais “filosófico”, como por exemplo: capacitar os alunos para que utilizem da natação como forma de exercício físico voltado para a saúde e para o lazer.
Depois você deve pensar nos objetivos específicos. Eles são os objetivos mais palpáveis (diversos) que precisam ser alcançados para que o objetivo geral também seja alcançado.
Assim, o que deve acontecer para que os alunos (em longo prazo) sejam capazes de utilizar da natação como forma de exercício físico voltado para a saúde e para o lazer? (que é o nosso exemplo de objetivo geral)
Depois que você tiver esses objetivos você será capaz de ter uma noção melhor do tempo necessário para isso. Esse tempo será divido em unidades menores, mais palpáveis e administráveis. Cada uma dessas unidades pode ser entendida como os níveis de aprendizagem.
Cada nível de aprendizagem também terá seu objetivo geral e os específicos. A linha de raciocínio para a determinação do objetivo geral de cada nível segue a lógica apresentada anteriormente.
Assim, ao passar pelos diversos níveis de aprendizagem e alcançar os objetivos gerais de cada um deles o aluno se aproxima mais do objetivo geral da instituição.
Já os objetivos específicos são, mais uma vez, objetivos mais palpáveis que devem ser alcançados em cada nível para que o objetivo geral do nível seja alcançado.
Ao determinar esses objetivos específicos, invariavelmente você já indicará quais são os conteúdos de ensino de cada nível e, da mesma maneira, os critérios de avaliação.
Esses conteúdos de ensino, posteriormente, devem ser distribuídos ao longo da duração (meses ou anos) de cada nível de aprendizagem. Essa ação permitirá que você saiba o que vai acontecer periodicamente no nível.
Finalmente, como você já sabe o que deve ser ensinado a cada semana, será possível fazer o seu plano de aula.
Perceba quantas decisões você teve que tomar antes de pensar na aula propriamente dita. Isso sim é planejamento das aulas de natação.
De qualquer maneira, não acredite que um planejamento bem-feito permitirá que as suas turmas sejam perfeitamente homogêneas, porque isso nunca irá acontecer. Por mais que os alunos possam ter semelhanças, eles continuam sendo indivíduos diferentes, com experiências e interesses diferentes.
Assim, até mesmo nesse caso, algumas estratégias apresentadas anteriormente podem ser fazer necessárias. Mas o que nós queremos na verdade, é diminuir os extremos, não acabar com as diferenças.
Com isso, no final das contas, apesar do planejamento, ainda precisaremos conhecer estratégias de diferenciação e de individualização.
A diferenciação consiste em diferenciar, simplificar ou adaptar uma atividade para um grupo de alunos porque se entende que essa iniciativa será melhor para a aprendizagem deles. Por algum motivo eles não conseguem fazer a atividade proposta originalmente e, por isso, ela precisa ser adaptada.
Apesar da adaptação o objetivo e a proposta da atividade não mudam (drasticamente). Veja um exemplo:
- Atividade original: realizar pernada crawl com os braços para frente e respiração frontal.
- Atividade com diferenciação (ao realizar a respiração frontal alguns alunos não conseguiam progredir na atividade, pois seus corpos afundavam muito): realizar pernada crawl com os braços para frente e colocando os pés no chão para respirar.
A proposta da individualização é muito parecida, mas nesse caso estamos visando atender melhor a uma particularidade de um dos alunos. Vamos pensar no exemplo anterior. Inicialmente você diferenciou a atividade, como apresentado no exemplo anterior, mas viu que isso não seria o suficiente para um dos alunos.
Você, então, pediu que ele fizesse a pernada com os braços próximos do tronco – além de realizar a respiração colocando os pés no chão, pois sabe que dessa maneira fica mais fácil de manter a flutuação e o equilíbrio. Outra iniciativa seria permitir que esse aluno utilizasse uma nadadeira.
Além da diferenciação e individualização podemos pensar e explorar os diferentes estilos/métodos de ensino. Tem um texto aqui no meu site explicando cada um deles. A intenção é contribuir com a organização da turma e da aula, garantir a aprendizagem, uma utilização eficiente do tempo da aula, uma progressão conjunta dos alunos e um dos pontos mais importantes – a satisfação do aluno e do professor pelo processo de aprendizagem.
Mas tudo isso é conversa para outro encontro, pois esse papo ainda é muito longo.
PARA FINALIZAR
Hoje nós conversamos sobre a importância do planejamento para as aulas de natação. Nós sabemos que em algumas situações o professor trabalha sem o planejamento correto e o nível de habilidade entre os alunos é muito diferente – é a condição de sabermos o que fazer quando acontecer. Pensando na qualidade do processo de aprendizagem, é algo que ele deve mudar. Entretanto, como nem sempre é possível no curto prazo, precisamos saber estratégias que permitam o mínimo de excelência na aula.
Mas eu também falei para vocês que tem como evitarmos isso, mas muitos professores não sabem como. Não sabem o que fazer para não acontecer. Nós não pudemos discutir muito sobre esse segundo tópico, mas eu espero que tenhamos essa oportunidade no futuro.
Enquanto isso, lembrem-se que “a preparação acontece antes da ação”.
Eu agradeço a oportunidade de poder conversar com vocês.
Cursos no meu site sobre essa temática
É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.