PEDAGOGIA DA NATAÇÃO

INTRODUÇÃO

Pedagogia é a reflexão sobre uma atividade educativa. Uma pedagogia da natação deve elaborar um conjunto de pressupostos teóricos que vão orientar para uma data metodologia de ensino.

Para se falar em pedagogia da natação é necessário assumir que o aprendizado da natação tenha componentes educativos, entendidos aqui como aqueles de natureza (i) procedimental (relacionado ao saber fazer), conceitual (conhecer a história da modalidade, as regras e as provas de competição, as normas de segurança em piscina, praias e rios, por que se faz determinado movimento) e atitudinal (ser colaborativo com os colegas com mais dificuldade, respeitar o meio ambiente cuidando da limpeza das praias e águas de rios, não empurrar colegas na água) presentes nos conteúdos de ensino.

Quando os componentes educativos da aprendizagem da natação (procedimental, conceitual e atitudinal) não são reconhecidos, aprender a nadar se limita ao domínio técnico dos quatro estilos de nado, orientação que parece predominar na maioria das concepções de ensino da natação (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Destaca-se ainda, que toda atuação de um professor corresponde uma determinada concepção, mesmo que ele não perceba (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Ou seja, mesmo que você não esteja conscientemente se baseando em uma proposta, você segue algum caminho, influenciado ou não por outros ou por suas leituras. O ideal seria que o caminho que você segue estivesse claro para você, pois só assim poderá fazer ajustes e questionar a sua própria prática.

Tudo bem, mas que propostas existem sobre esse caminho a seguir para o ensino da natação? Abaixo eu descrevo uma proposta. Você tem acesso a várias propostas aqui no meu site, inclusive no meu curso sobre o Planejamento do Ensino da AMA.

PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DO ENSINO DA NATAÇÃO

Na literatura existem propostas que sugerem a existência de três fases de ensino baseadas em pressupostos do desenvolvimento, que seriam as fases (1) dos movimentos fundamentais, (2) de combinação de movimentos fundamentais e (3) de movimentos culturalmente determinados (FREUDENHEIM, GAMA e CARRACEDO, 2003).

A AMA aconteceria na fase de ensino dos movimentos fundamentais. Por outro lado, na fase dos movimentos culturalmente determinados temos o ensino dos nados formais e – dentro de uma proposta mais abrangente, de outras habilidades aquáticas (FREUDENHEIM et al., 2003).

Além disso, lembre-se, devemos reconhecer a importância do desenvolvimento de demandas motoras, afetivos-sociais e cognitivas (FREUDENHEIM et al., 2003).

Assim, diferentemente do tradicionalmente proposto, entende-se que deve haver uma fase intermediária entre o ensino da AMA e dos movimentos culturalmente determinados – que foi chamada de combinação de movimentos fundamentais (FREUDENHEIM et al., 2003).

Deve-se entender ainda que o ensino da natação deve ser centrado na criança, e por esse motivo, elas aprendem de forma diferente umas das outras. Além disso, o ensino da natação deve partir de uma visão de que o ser humano é um todo indivisível.

Assim, para aprender a nadar, precisa ser pensado um programa considerado os aspectos motor (movimentos fundamentais, combinação de movimentos fundamentais ou movimentos culturalmente determinados – dependendo do momento da aprendizagem), afetivo-social (confiança, autonomia, participação e relacionamento, motivação e segurança) e cognitivo (percepção dos movimentos do nadar, conhecimento básico de aspectos biomecânicos e fisiológicos e conhecimento de regras de segurança) (FREUDENHEIM et al., 2003).

O QUE ENSINAR EM CADA UMA DAS FASES

FASE DE MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS

O objetivo dessa fase é levar o aluno a conquista da autonomia no meio líquido. Para isso deve-se ensinar, principalmente, conteúdos relacionados ao controle respiratório e o equilíbrio (FREUDENHEIM et al., 2003).

Veja a proposta (exemplos) do que desenvolver em relação aos aspectos motores, afetivos-sociais e cognitivos:

  • Aspectos motores:
    • Adaptar os órgãos sensoriais e a respiração, de forma diversificada.
    • Controlar as posturas estática e dinâmica nas posições vertical e horizontal, de diferentes formas, com e sem auxílio.
    • Realizar deslocamentos e deslizes, com e sem auxílio (variando os movimentos de cabeça, tronco, braços (etc), em diferentes velocidades, direções e posições do corpo, na superfície e submerso).
    • Desenvolver entradas e saltos.
  • Aspectos afetivo-sociais:
    • Confiar no professor.
    • Ter bom relacionamento com o grupo e com o professor.
    • Ter confiança para enfrentar os desafios.
    • Demonstrar motivação e envolvimento nas atividades individuais e grupais.
    • Ter iniciativa para resolver problemas.
    • Se sentir seguro durante a realização das atividades em diferentes profundidades e com autonomia.
  • Aspectos cognitivos:
    • Conhecer as regras básicas de segurança.
    • Demonstrar conhecimento sobre a percepção corporal durante a realização de movimentos.
    • Ter adequada percepção de objetos e sons, quando submerso.
    • Ter noções sobre hidrodinâmica.

FASE DE COMBINAÇÃO DE MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS

Aqui se objetiva o aperfeiçoamento dos movimentos fundamentais e o desenvolvimento de combinações em nível de complexidade progressivamente maior.

Assim, devem ser realizadas combinação dos movimentos fundamentais sem que haja quebra de continuidade de movimento na hora de realização da tarefa.

Veja a proposta (exemplos) do que desenvolver em relação aos aspectos motores, afetivos-sociais e cognitivos:

  • Aspectos motores:
    • Flutuar com diferenciação de controle em relação à submersão, em diferentes posições, modificando o decúbito nos dois eixos do corpo.
    • Controlar a respiração.
    • Se deslocar a partir de movimentos de braços e mãos, de pernas e pés (de diferentes formas).
    •  
    • Realizar a imersão.
    • Executar saltos verticais e de cabeça.
  • Aspectos afetivo-sociais:
    • Demonstrar bom relacionamento com o grupo e com o professor.
    • Ter confiança para enfrentar os desafios.
    • Demonstrar motivação e envolvimento nas atividades individuais e grupais.
    • Ter iniciativa para resolver problemas.
    • Se sentir seguro durante a realização das atividades em diferentes profundidades e com autonomia.
  • Aspectos cognitivos:
    • Conhecer as regras básicas de segurança.
    • Demonstrar conhecimento sobre a percepção corporal durante a realização de movimentos, com verbalização
    • Ter noções sobre hidrodinâmica e fisiologia.

FASE DE ENSINO DOS MOVIMENTOS CULTURALMENTE DETERMINADOS

Nessa fase o objetivo é desenvolver combinações mais complexas e específicas. Nas três fases propostas o ensino deve ocorrer prioritariamente por meio da repetição do processo de solução dos problemas motores, e não da repetição dos meios (resposta) para solucioná-los (caso contrário a aprendizagem se tornará mecânica) (FREUDENHEIM et al., 2003).

Veja a proposta (exemplos) do que desenvolver em relação aos aspectos motores, afetivos-sociais e cognitivos:

  • Aspectos motores:
    • Propulsionar-se de acordo com cada estilo de nado e realizar as saídas e viradas a partir dos critérios técnicos.
    • Saltar em crescentes distâncias, de formas variadas e de diferentes locais.
    • Mergulhar em crescentes profundidades e posicionamentos corporais.
    • Realizar atividades de nado artístico (posturas simples, deslocamentos sincronizados, formação de figura em grupo).
    • Realizar atividades de polo aquático (deslocamentos com bola em diferentes situações, passes, recepções e lançamentos a gol).
  • Aspectos afetivo-sociais:
    • Demonstrar confiança para enfrentar desafios.
    • Demonstrar iniciativa para resolver problemas, motivação e envolvimento nas atividades.
    • Ter bom relacionamento com o grupo e professor.
    • Demonstrar capacidade de jogar de acordo com as regras.
  • Aspectos cognitivos:
    • Ter adequada percepção com verbalização dos movimentos dos quatro estilos e dos outros esportes aquáticos.

SUGESTÃO DE LEITURA

FERNANDES, J. R. P.; LOBO DA COSTA, P. H. Pedagogia da natação: um mergulho para além dos quatro estilos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 20, n. 1, p. 5-14, 2006.

FREUDENHEIM, A. M.; GAMA, R. I. R. B.; CARRACEDO, V. A. Fundamentos para a elaboração de programas de ensino do nadar para crianças. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2, n. 2, p. 61-69, 2003.

2 comentários

  1. José Antônio Barreiros

    Excelente o artigo

  2. José Antônio Barreiros

    Ótima o artigo

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