Eu sou Legado Olímpico
Muito já se discutiu e ainda se discute sobre quais serão os legados que os Jogos Olímpico Rio-2016 deixarão para cidade e para o país. Essa não é uma discussão simples. De qualquer forma, são esperadas melhorias em mobilidade, infraestrutura, esporte, educação, cultura e meio ambiente. Mas venho aqui falar sobre minha experiência.
Eu sou legado olímpico (#eusoulegadoolimpico) porque vi surgirem as discussões da importância da gestão do esporte no Brasil. Da relevância da gestão profissional e sua consequência no sucesso esportivo dos jovens em formação e dos atletas olímpicos. Só boa vontade e amor não bastam. Na verdade, podem até atrapalhar. Fiz diversos cursos sobre essa temática: de gestão de arenas esportivas até marketing e direito esportivo.
#eusoulegadoolimpico porque fiz parte da Academia Brasileira de Treinadores – programa de capacitação de treinadores esportivos oferecido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), por meio do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB). Conheci treinadores de natação, ginástica e atletismo de todo o país – dividimos conhecimento, sonhos e frustrações. Conheci pessoas admiráveis do IOB, das quais sempre me recordarei. Tive aulas com professores de mérito esportivo e acadêmico. Realizei estágios com treinadores fabulosos. Revi e fiz diversos amigos.
#eusoulegadoolimpico porque participei como voluntário dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Minha função, especificamente, era realizar tarefas associadas ao atendimento da Federação Internacional de Natação (FINA). Mas fiz muito mais do que isso (desde tarefas mais simples a outras mais complexas). Eu estava ali para ajudar. Que sejamos sempre proativos e com o interesse de ajudar. Me perguntam se valeu a pena, afinal de contas não é tarefa fácil: são amizades e aprendizagens que levarei para toda vida. Levaria muitas horas para contar tudo.
#eusoulegadoolimpico porque vivenciei a rotina de preparação e funcionamento do Estádio Aquático Olímpico nos eventos de natação e polo aquático. Vivenciei aquilo que acontece nos bastidores. Dezenas de pessoas desconhecidas que trabalham incansavelmente com competência para que o show aconteça da melhor maneira possível. Tive experiência semelhante no Pan 2007. Mas agora foi ainda maior.
#eusoulegadoolimpico porque, até em nível olímpico, ainda acho que as provas de natação precisam ser mais atrativas ao público geral. Assisti eventos no vôlei e basquete que conseguiram fazer isso muito bem. O show não pode se limitar ao desempenho dos atletas – apesar de isso ser determinante. Me recordo que todas vez que o Phelps ia nadar (ou algum brasileiro) quase não tinha como ver a piscina. Mas depois da prova sumia todo mundo. Não sei aonde ficavam escondidos durante as outras provas (rsrsr). Muitas pessoas sequer conhecem o esporte (acreditem!) e precisam ser atraídos para ele.
#eusoulegadoolimpico porque ouvi discussões relativas ao esporte (e não somente aquelas do futebol) sendo realizadas por diferentes pessoas (experiências, idades, sexo, locais e classe social) e em diferentes locais (ônibus, restaurante, elevador, nas longas caminhadas até o Estádio, na rua)
#eusoulegadoolimpico porque continuo com a certeza de que existem atletas e ATLETAS; técnicos e TÉCNICOS; equipe e EQUIPES. Todos de carne e osso, apesar da televisão vender a ideia de que são heróis (mas entendo a importância disso para o marketing). Na minha opinião, passar a ideia de que são heróis (com capa e superpoderes) só os distancia dos atletas em formação. São SIM pessoas comuns, como eu e você, seu vizinho, seu professor. Temos vizinhos, amigos e professores heróis. Independente da área profissional na qual resolveram seguir. São heróis aqueles que são pacientes, persistentes e com parcimônia; “perdem” em uns dias e “ganham” em outros. Devemos tê-los como exemplo, mesmo que não sejam de nossa área.
#eusoulegadoolimpico porque vi e conheci pessoas completamente diferentes trabalhando por um bem comum. Bem comum que extrapola, muitas vezes, nossas vontades e limitações individuais.
#eusoulegadoolimpico porque ajudei muitas pessoas. E também fui ajudado. Me recordo de um episódio em que estava no Parque Olímpico da Barra. Assisti um jogo de basquete antes da minha escala de voluntário. Estava com o uniforme completo, com exceção da camisa e credencial. Foi colocar a amarelinha e começaram os pedidos de ajuda. Desde informações mais simples até o que poderia fazer para ajudar uma pessoa a encontrar seus familiares. Como é um ambiente novo para todos (da saída de casa até se chegar ao local de competição), a solidariedade é algo importante e comum no dia a dia.
#eusoulegadoolimpico porque percebi que a motivação pessoal independe de qualquer incentivo financeiro ou material. Os incentivos são importantes, mas algumas pessoas, seja por 1 ou por 1000, fazem uma atividade com a mesma qualidade. E assim, possivelmente chegarão mais longe. As motivações também são individuais. Alguns se satisfazem com a participação ou classificação para as finais. Outros apenas com a medalha. E não cabe aqui julgarmos o que é certo ou errado. Cada atleta começa de um ponto diferente em sua trajetória – a linha de largada não é comum, como acontece na saída de bloco ou no início da maratona. E essa trajetória não é tão simples como preocupar-se apenas em nadar em sua raia.
#eusoulegadoolimpico porque reforço que a massificação e política esportiva são determinantes para o sucesso esportivo olímpico. Conversando com um membro da comissão técnica ele me disse: eles escolhem os jogadores de uma população de cerca de 30 mil federados. Eu, por outro lado, de uma população de 20 indivíduos. Possivelmente, da onde tiraremos mais qualidade?
#eusoulegadoolimpico porque reconheço a relevância social que o esporte tem. Daremos importância aquilo que nossa sociedade (local, regional, nacional e internacional – cada um ao seu tempo) reconhecer como importante. Eu só praticarei natação ou polo aquático se meus pais (possivelmente) me apresentarem a modalidade (se socialmente não forem esportes importantes, eu farei qualquer outra coisa). Só melhorarei se tiver bons professores e técnicos (que só serão bons se houver um motivo para isso). Continuarei meus treinamentos se tiver benefícios de curto, médio e longo prazo.
#eusoulegadoolimpico porque vi que existe o esporte da televisão e o esporte no estádio. Ao assistir um jogo da seleção brasileira de polo aquático, me lembro de uma moça do setor de “cleaning” dizer que a partida que assistiu na televisão (o que já é um grande progresso, afinal de contas quem diria que ela teria o interesse em assistir polo aquático na televisão) era muito diferente daquela que estava vendo naquele momento. Assim, o esporte competitivo precisa de visibilidade. Precisa de investimento e deve dar retorno financeiro. Não adianta fecharmos os olhos para isso.
#eusoulegadoolimpico porque descobri dezenas de países que sequer sabia que existiam. Cada um com suas potencialidades e mazelas.
#eusoulegadoolimpico porque vi de perto Michael Phelps (entre tantos outros), o maior nadador/atleta de todos os tempos. Vi sua vitória em diversas provas e sua segunda colocação (por incrível que parece empatado com mais dois grandes nadadores) nos 100 m borboleta (o que para mim não é uma derrota). Assim, como disse acima, um herói sem capa e superpoderes (como ele mesmo afirmou). Na vida real os heróis são superados por outros heróis tão normais quanto eles ou qualquer outro.
#eusoulegadoolimpico porque vi que atletas fazem coisas boas e outras, nem tanto (exemplo na natação e na corrida de velocidade!). Tão extraordinários e tão comuns. Até mesmo os heróis-ídolos precisam de guias. Caso contrário, podem perder o rumo. Alguns são pais, outros treinadores ou amigos.
#eusoulegadoolimpico porque vi os jogadores de polo aquático da Itália vibrarem com a medalha de bronze (quanta felicidade). E o mesmo posso dizer de Poliana Okimoto. É lógico que todos querem chegar “em primeiro” e bater recordes. Mas apenas um terço dos atletas olímpicos voltam para casa com medalha (e qual é o percentual de atletas que chegam aos Jogos Olímpicos?). Nesse sentido, a cor da medalha é o menos importante. Jogos Olímpicos são a cada 4 anos. Não são quatro dias.
#eusoulegadoolimpico porque entendo que o que aconteceu no seu passado não determina, necessariamente, o seu futuro. Desempenhos ruins no passado não determinam insucessos futuros. Medalhas Olímpicas anteriores, não garantem, se quer, classificação para os jogos Olímpicos seguintes. A luta é constante.
#eusoulegadoolimpico porque vi o canoísta baiano Isaquias Queiroz, até então desconhecido (pelo menos para mim) fazer história ao se tornar o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa mesma edição de Jogos Olímpicos. E quantos significados essa conquista tem para toda e qualquer pessoa!
#eusoulegadoolimpico porque vi os brasileiros torcerem por esportes pouco populares. Por quererem conhecê-lo e praticá-lo.
#eusoulegadoolimpico porque todos os envolvidos com os Jogos (força de trabalho, atletas, árbitros, federação) reconhecem que esse é um momento único.
#eusoulegadoolimpico porque conheci pessoas incríveis ligadas ao esporte. Vivi momentos únicos e especiais.
#eusoulegadoolimpico porque aprendi com os Jogos Olímpicos do Rio 2016. E tudo o que aprendi e vivenciei passarei aos meus atletas, alunos e amigos.
Sugestão de leitura:
https://www.rio2016.com/legado
http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/legado/plano-de-politicas-publicas
http://www.esporte.gov.br/arquivos/rio2016/cadernoLegadosSocial.pdf
Prof. Guilherme Tucher
4 Comentários
Tucher, um excelente relato.
Conseguiu estabelecer um link entre as olimpíadas é tudo o que lá vivenciou com sua trajetória no esporte de rendimento.
Parabéns.
Obrigado, meu amigo Jairo. Foi uma experiência realmente incrível.
Meu amigo, muita sorte minha poder ler estes relatos, além de poder ouvir de você outros fatos e observações além destas e poder crescer como profissional (e pessoa) com tudo isso é muito mais.
Tens minha admiração e respeito. Sabes disso!
Grande amigo. Sorte a minha poder conversar com você para aprendermos juntos. Obrigado pela visita.