PLANEJAMENTO DO ENSINO EM NATAÇÃO

Tradicionalmente a literatura sugere que o aprendiz deva passar inicialmente por uma adaptação ao meio líquido ou adaptação ao meio aquático antes da aprendizagem dos esportes aquáticos – como é o caso da natação. Em seguida, então, tem início o ensino dos nados.

Na etapa da adaptação ao meio aquático (AMA) alguns elementos/movimentos são demonstrados fora da água e há contínuo monitoramento do professor, a fim de eliminar movimentos inadequados tecnicamente, tendo como modelo a execução baseada em preceitos biomecânicos rigorosos da técnica dos nados (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Eu, particularmente, considero isso um erro – como discuto frequentemente nos meus cursos. Limitar as experimentações dentro da água durante a AMA a uma forma de iniciação a técnica dos nados confinará os alunos a uma pequena quantidade de movimentos e possibilidades.

Assim, mesmo durante a AMA, apesar da importância de se respeitar certa sequência do ensino e planejamento, também há certa individualização da aprendizagem, considerando a idade e sobretudo, o desenvolvimento global da criança (MORGADO et al., 2016).

Por sua vez, geralmente, o ensino dos nados geralmente segue uma sequência pré-determinada de tarefas, comuns a todos os indivíduos que, ao final, leva ao aprendizado de um ou mais estilos da natação competitiva (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Para essa etapa da aprendizagem dos nados, não vejo como negativo a existência de uma sequência pré-determinada de tarefas de ensino. Isso é uma questão de planejamento. A questão principal, mais uma vez, é que devemos respeitar o ritmo de aprendizagem dos alunos. Além disso, sempre que necessário, diferenciar ou individualizar um exercício de aprendizagem para que todos os alunos sejam contemplados.

Assim, tenha sempre em mente que quando o ensino da natação é focado apenas na aprendizagem dos nados formais e competitivos, aspectos como a etapa de desenvolvimento da habilidade do nadar em que o aluno se encontra, sua faixa etária, seus interesses e possibilidades físicas particulares não são considerados, o que pode tornar a aprendizagem da natação um processo monótono e sem significado para quem aprende e repetitivo e desinteressante para quem ensina.

Não devemos seguir um mesmo processo de ensino dos nados para crianças, adolescentes e adultos. O objetivo final pode ser o mesmo, o ensino dos nados ou do nadar, mas o caminho e o tempo que temos devem ser diferentes.

A fim de alterar essa situação é fundamental que o foco do ensino passe a ser o processo do aprender a nadar e não o domínio mecânico dos nados competitivos (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

No Brasil, parece que ainda predomina nas escolas, clubes e academias um ensino que poderia ser classificado como de natureza analítica-progressiva, com fragmentação dos movimentos de acordo com o estilo de nado a ser aprendido e sistematização de sequências pedagógicas com graus progressivos de dificuldade (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Eu não vejo isso como negativo, afinal de contas os movimentos dos nados são complexos para serem ensinados a partir do “todo”. Mas isso não significa que a aula tenha que ser uma sequência de reprodução de movimentos que não fazem sentido ao aprendiz.’

Pense nisso.

Sugestão de leitura

FERNANDES, J. R. P.; LOBO DA COSTA, P. H. Pedagogia da natação: um mergulho para além dos quatro estilos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 20, n. 1, p. 5-14, 2006.

MORGADO, L.; COSTA, A.; MANHATTAN, M.; MARY, V.; ANNE, D.; BORIS, J. À descoberta do meio aquático: o método CEReKi para o ensino da adaptação ao meio aquático. In: MOROUÇO, P., et al (Ed.). Natação e Atividades Aquáticas: pedagogia, treino e investigação. Leiria: Instituto Politécnico de Leiria, 2016. cap. 2, p.27-41. ISBN 978-989-8797-11-7.

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