Ensino e Aperfeiçoamento dos Nados
- Postado por Guilherme Tucher
- Categorias Notícias, TOP - Natação
- Data 25 de novembro de 2024
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Introdução
Existem diversas abordagens para guiar o desenvolvimento dos alunos nas aulas de natação. A mais comum é dividir o processo em etapas de aprendizagem e aperfeiçoamento. No entanto, o que exatamente ensinamos em cada fase, e como distinguimos uma da outra? Este texto abordará essas questões em profundidade.
Objetivo
Diferenciar as responsabilidades e o foco do professor em cada fase do ensino da natação, desde o ensino dos fundamentos até o aperfeiçoamento técnico.
Parte 1: A Aprendizagem
- Conceito de Aprendizagem: aprender é um processo que leva tempo e envolve experimentação, estudo e observação. Para o aluno, isso significa modificar suas habilidades motoras e cognitivas em resposta à prática. O papel do professor é criar oportunidades de experimentação e observação de qualidade, para que o aluno adquira habilidades que irão compor sua técnica de nado.
- Conteúdos de Ensino dos Nados: dividimos o ensino em conteúdos específicos que formam os nados, como saída, nado, virada e chegada. Estes conteúdos incluem:
- Pernada (posição corporal e respiração geral)
- Braçada (posição corporal e respiração geral)
- Coordenação entre braço e perna
- Respiração específica
- Coordenação completa do nado
- Nado completo
- Para a saída de bloco, trabalhamos conteúdos como: entrada na água, deslize, ondulação/filipina e retorno ao nado.
- Na virada, focamos no giro, aproximação, impulso e transição para o nado.
- Para a chegada, abordamos o toque na parede e a aproximação final.
Essa abordagem garante uma progressão lógica e adequada para o aluno e deve ser utilizada durante todo o processo de aprendizagem.
- Estratégias de Ensino na Aprendizagem: devemos nos preocupar em como passar as instruções de forma clara e em como nos posicionarmos estrategicamente, para que todos os alunos possam nos ver e ouvir, maximizando o aprendizado. Além disso, entender a importância da demonstração e da comunicação com os alunos para esclarecer dúvidas e ajustar o que está sendo executado.
- Discussão sobre Educativos: é importante entender a função dos educativos na aprendizagem e como alguns educativos podem levar a erros quando mal aplicados ou orientados. Pense em exemplos da sua prática que podem induzir o aluno a um movimento incorreto, sabendo como propor atividades que realmente ajudem o aluno a alcançar uma técnica correta.
- Ensino de AMA vs. Ensino dos Nados: é claro para você a diferença entre o ensino das habilidades motoras aquáticas (AMA) e dos nados formais? Isso é muito importante. Além disso, saiba como conduzir uma transição gradual entre essas etapas para que o aluno aprenda cada habilidade no momento apropriado.
Parte 2: O Aperfeiçoamento
- Conceito de Aperfeiçoamento: o aperfeiçoamento é uma fase de refinamento, que busca melhorar a eficiência e a execução técnica dos movimentos adquiridos. É uma busca pela especialização, onde o aluno vai aperfeiçoando o conjunto de habilidades que compõem o nado completo – que foram adquiridas na etapa de aprendizagem.
- Conteúdos do Aperfeiçoamento (Prática Avançada): no aperfeiçoamento, passamos a focar na execução do movimento completo – diferentemente do que acontece na etapa de aprendizagem. A ideia é que na fase de aperfeiçoamento o aluno execute o nado completo com qualidade, aperfeiçoando detalhes que impactam na sua eficiência. Sempre, ou quase sempre, a partir do próprio nado completo.
- Foco no Movimento Completo: diferente da fase de aprendizagem, no aperfeiçoamento buscamos identificar possíveis falhas e ajustar a execução no contexto do nado completo, para que o aluno possa nadar de forma coordenada e eficiente. Aqui, enfatizamos a importância de ajustar as técnicas com base nas capacidades individuais dos alunos, respeitando suas limitações.
Parte 3: A Importância da Repetição
- Estratégias de Repetição: a prática constante é fundamental tanto na aprendizagem quanto no aperfeiçoamento. Aqui eu te explico três formas de organizar a repetição:
- Prática em blocos (constante): um exercício é repetido várias vezes antes de mudar para um próximo. Essa proposta parece ser a mais adequada para alguns ganhos imediatos (mas momentâneos).
- Prática seriada (sequencial): uma sequência de exercícios é repetida com variações.
- Prática aleatória (variada): os exercícios são realizados em ordem aleatória, promovendo maior a adaptação a prática e retenção a longo prazo (parece ser uma proposta mais adequada as nossas aulas).
- Qualidade na Repetição: mais importante do que a quantidade é a qualidade da repetição. Cada execução deve contribuir para o avanço do aluno, criando uma base sólida para as próximas etapas.
Parte 4: Tipos de Feedback
- Feedback Intrínseco e Extrínseco: entenda sobre os dois tipos de feedback:
- Intrínseco: é a percepção do próprio nadador sobre o movimento, utilizando sensações corporais e ajustando o que sente com o que está sendo executado.
- Extrínseco (aumentado): vem do professor e pode incluir feedback verbal, visual ou cinestésico, ajudando o nadador a entender o que precisa ser corrigido para melhorar.
- Conhecimento de Performance vs. Conhecimento de Resultado: o feedback extrínseco pode ser direcionado para a performance (o processo do movimento) ou para o resultado (resultado da tarefa; consequência do movimento). Esses dois enfoques oferecem ao aluno informações essenciais para se ajustar e aprimorar.
- Princípios para um Feedback Eficiente: como estratégias, pense em ser oportuno, específico e positivo, com o objetivo de maximizar o entendimento e a motivação do aluno.
Conclusão
Este texto discutiu de forma breve, algumas estratégias para transformar o ensino e o aperfeiçoamento da natação em um processo estruturado, eficaz e motivador, proporcionando aos professores ferramentas para guiar seus alunos a uma aprendizagem de qualidade e, posteriormente, à especialização no nado.
É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.