Ensino da Natação
- Postado por Guilherme Tucher
- Categorias Notícias, TOP - Natação
- Data 21 de fevereiro de 2022
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O posicionamento do professor na piscina e a condução das aulas de natação
Parte 1
Esse é um texto no qual eu discuto a importância de pensarmos sobre o posicionamento do professor na piscina e a condução das aulas de natação.
Ele será dividido em três partes.
Acompanhe agora a primeira parte.
INTRODUÇÃO
Quando eu comecei a trabalhar com o ensino da natação eu ainda estava na graduação. Talvez por isso e pela inexperiência na função, tentei usar ao máximo dos conhecimentos que tinha a minha disposição: as aulas e as minhas leituras de livro.
A minha preocupação era a de como ser um bom professor; e ser um bom professor era sinônimo de saber sobre como ensinar. Saber ensinar, para mim, era tão importante quanto saber o que ensinar – entendimento que tenho até os dias de hoje.
Entre as leituras que fiz, duas que me são bem claras na memória são a do livro A Ciência do Ensino da Natação (Palmer; 1990) e, posteriormente, já logo depois de formado, O Poder de Delegar (Donna M Genett; 2004) – sendo que esse último livro não é sobre natação e muito menos sobre educação física. Por conta própria fiz um conjunto de associações sobre as informações do livro com as necessidades que tinha na época.
O que percebo é que, no geral, os professores sabem a técnica dos nados. Entendem que deve ser feita uma adaptação ao meio aquático. Na pior das hipóteses fazem assim porque assim foi ensinado na graduação. Entretanto, sabem um pouco menos sobre o que exatamente devem ensinar. E pior, menos ainda sobre como ensinar.
Dentro do campo “como ensinar” discutirei nesse texto mais exatamente sobre a utilização do espaço da piscina e importância do posicionamento do professor durante as aulas. Esses dois pontos terão grande influência (i) no controle da turma, (ii) na sua capacidade de ser visto e (iii) ouvido pelos alunos e de, também, (iv) de ver os alunos (antes da atividade e durante a atividade).
Nesse sentido, vamos pensar em três níveis básicos de turma de aprendizagem: (i) adaptação ao meio aquático, (ii) aprendizagem dos nados e (iii) aperfeiçoamento dos nados. As discussões serão realizadas nessa ordem.
DESENVOLVIMENTO
As Turmas de Adaptação ao Meio Aquático (AMA)
Quando falamos de turmas de adaptação ao meio aquático (AMA) eu destaco as três possíveis situações apresentadas na Figura 1. Na imagem podemos ver uma representação com piscina rasa (alunos conseguem colocar os pés no chão) e duas com piscina funda (alunos não conseguem colocar os pés no chão).
Primeiro destaco que em todas elas o professor está dentro da piscina. Me desculpem, mas não vejo como trabalharmos com turmas de AMA, independentemente da idade dos alunos (dos 2 aos 80 anos), sem o professor estar dentro da piscina.
Estar dentro da piscina garante:
- maior segurança ao aluno (se acontecer alguma coisa é mais fácil e rápido de você agir),
- melhor controle da turma (sempre tem um aluno afundando enquanto você está tentando explicar a atividade. Se você estiver na água fica mais fácil de levá-lo novamente para a superfície e fazê-lo prestar atenção) e
- proximidade/afetividade por parte do professor (as crianças adoram quando o professor está na água).
Eu entendo que às vezes é complicado para o professor, pois a água é fria, são muitas aulas, a próxima turma é de jovens (e ele não precisaria estar na água) ou depois ele precisa ir para a sala de musculação ou outro emprego.
Mas repito, para esse nível de aprendizagem, precisamos estar na piscina. Não tem jeito.
Até mesmo nas turmas de graduação, quando trabalho o ensino da AMA, eu fico na água. Na EEFD-UFRJ, por exemplo, temos uma disciplina chamada de Prática da Natação. O seu objetivo é realmente oportunizar o ensino da natação, sendo uma disciplina 100% prática. Alunos de outros cursos, inclusive, podem cursá-la.
Nos momentos que eu trabalhei com essa disciplina, fiquei com os alunos que precisavam fazer a AMA; e lá estava eu na água. Se fosse uma turma de aprendizagem dos nados, possivelmente isso não seria necessário.
Digo possivelmente, porque dependendo de quantas aulas estão acontecendo ao mesmo tempo e de como a piscina é dividida, isso pode ser determinante para a melhor aprendizagem dos alunos.
Cito um exemplo. Uma vez, também na EEFD-UFRJ, tínhamos na piscina de 25 m: uma aula de hidroginástica (com música e alunos empolgados do lado de fora da piscina), duas aulas de natação para a graduação, e uma aula de natação para crianças em um projeto.
Se eu não ficasse dentro da água, considerando o barulho da música e a quantidade de distrações no ambiente (os outros colegas, barulho e a própria condição de estar na água) eu não teria conseguido dar aula.
Além dos benefícios citados anteriormente, estar na água não trará prejuízos na correção ou demonstração de movimentos porque nessa etapa os movimentos são “mais livre”. Estamos falando da descoberta e da percepção do corpo na água e não da exigência de um padrão único de realização do movimento.
Além disso, fica mais fácil do professor passar a informação oral e de ser escutado pelos alunos. Essa proximidade também permite que o professor olhe para os alunos, ajude-os diretamente e perceba se eles estão realmente entendendo o que deve ser feito.
Por outro lado, o posicionamento dos alunos pode variar em função da profundidade da piscina e da utilização de boias. Eu tenho dois vídeos que discutem essa realidade (profundidade da piscina, utilização de boia e aprendizagem) no meu canal do YouTube.
Se a piscina for rasa (Figura 1, esquema A) os alunos devem estar na água. O mesmo vai acontecer se a piscina for funda (para os alunos), mas eles estiverem usando boias de braço (Figura 1, esquema C). O simples contato com a água já está oportunizando alguma aprendizagem.
Entretanto, se a piscina for funda (para os alunos) e eles não estiverem usando boias de braço (Figura 1, esquema B) é mais seguro e oportuno que os alunos fiquem sentados na borda. Essa não é uma condição muito boa de aprendizagem, pois o tempo de aula não é muito bem aproveitando.
Mas preciso dizer que é a mais segura. Já tive que dar aula assim.
Nessa condição o professor deve fazer a atividade com um ou dois alunos ao mesmo tempo, enquanto os outros esperam, até que eles sejam direcionados a borda novamente.
Dependendo da idade e autonomia dos alunos também seria possível que eles estivessem dentro da piscina, mas segurando na borda. Entretanto, isso pode ser um risco – por isso, depende de quem são realmente os seus alunos.
Por fim, como estamos falando de turmas iniciais de ensino da AMA, não é necessário que se utilize uma piscina de 25 m. Longe disso! A não ser que estivéssemos fazendo outra discussão de ensino da AMA.
Por isso, o espaço da piscina pode ser dividido em outros menores, com a utilização das raias, por exemplo. É até mesmo interessante porque facilita o controle da aula e a manutenção da segurança dos alunos.
No próximo texto a discussão será sobre as turmas de aprendizagem.
É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.