Ensino da Natação
- Postado por Guilherme Tucher
- Categorias Notícias, TOP - Natação
- Data 7 de março de 2022
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O posicionamento do professor na piscina e a condução das aulas de natação
Parte 2
Essa é a segunda parte de um texto que falo sobre o posicionamento do professor na piscina e a condução das aulas de natação.
Para assistir a primeira parte clique aqui.
As Turmas de Aprendizagem dos Nados Formais
Falemos agora das turmas que já passaram pela AMA, ou que estão fazendo uma AMA mais complexa, como tenho defendido, mas que também estão iniciando a aprendizagem dos nados formais. Os esquemas estão na Figura 2.
Percebam que em todos os esquemas é utilizado o menor percurso da piscina para a realização da aula e que o professor pode/deve estar preparado para estar dentro ou fora da água. Vamos discutir o primeiro ponto.
Como estamos falando de aprendizagem dos nados, significa que os alunos não têm técnica e condicionamento físico adequados para realizar movimentos/educativos em grandes percursos.
Se for obrigatório que o aluno faça um educativo de aprendizagem por 25 m, por exemplo, muito possivelmente o fará bem nos 10 primeiros metros e depois repetirá o erro (por causa do cansaço) nos outros 15 metros.
Ou seja, repetiu mais o erro do que o acerto.
Lembre-se que estamos falando de aprendizagem e o maior inimigo da aprendizagem é o cansaço (que também leva a falta de atenção e dificuldade de entendimento). Eu sei que a aprendizagem é dependente da repetição. Mas você pode fazer 100 metros sem parar ou fazer 10 x 10 metros com intervalo para descanso e orientação.
Se for possível para a sua realidade, organize os dias das aulas de uma maneira que as atividades novas sejam realizadas na menor distância (como na lateral da piscina) e aquelas com maior domínio ficam concentradas para o dia que se utiliza maior distância.
Nos esquemas A, B e C da Figura 2 eu dou destaque a três diferentes posicionamentos que o professor pode vir a assumir durante a aula. No posicionamento 1 (Figura 2, esquema A) o professor está dentro dá água.
Dependendo da quantidade de alunos o professor deve se posicionar mais próximo ou distante deles. A grande questão é a seguinte: quem está no centro do campo de visão do professor tende a se beneficiar, pois a mensagem visual/auditiva geralmente é mais bem percebida.
Sendo assim, os alunos que estão nas extremidades podem não entender muito bem o que deve ser feito em uma atividade ou mesmo porque deve ser feito dessa maneira (lembra do procedimental e do conceitual?).
Além disso, são mais sujeitos a distrações (alunos conversam entre si ou prestam atenção em outras coisas fora da piscina).
Por isso a minha sugestão é que o professor explique a atividade mais de uma vez, talvez utilizando pontos diferentes de reforço da informação (visual ou oral) focando nos diferentes grupos (laterais e centro).
Ao final, sempre pergunte se os alunos entenderam o que deve ser feito, principalmente aquele aluno que está mais distante de você.
Em seguida os alunos realizarão a atividade e, sinceramente, esse posicionamento dentro da piscina não é o melhor para visualizar os alunos nadando. Agora, diferentemente da AMA, já temos certos padrões de movimento que devem ser alcançados.
De qualquer maneira, se para a sua realidade o melhor é estar dentro da água, quando os alunos estiverem realizando as atividades, ande pela piscina para que você veja o movimento realizado e proponha as correções.
Vamos agora para o posicionamento 2 (Figura 2, esquema B), onde o professor está fora da piscina e lateralmente aos alunos. Primeiro é importante destacar que esse posicionamento não impede os posicionamentos indicados como 1 e 3 (que estão nas outras imagens).
As imagens só estão separadas por questões didáticas. Para esse nível de aprendizagem o ideal é que o professor esteja preparado para assumir qualquer posicionamento visando a melhor explicação e demonstração da atividade.
No posicionamento 2 (Figura 2, esquema B) é possível perceber que os alunos que estão mais próximos do professor terão maior benefício, pois conseguem ouvi-lo e vê-lo melhor. É lógico que o tamanho da piscina e a quantidade de alunos deve ser levado em consideração nesse caso.
Mas no nosso exemplo a piscina é de 25 m e os alunos estão um do lado do outro – ocupando toda a borda da piscina. Isso não é difícil de acontecer com uma turma de 20-25 alunos.
Como nesse caso os alunos que estão mais distantes do professor podem ser prejudicados (maior dificuldade de ver e ouvir o professor), e caso haja a impossibilidade de assumir os posicionamentos 1 e 3, seria interessante que o professor perguntasse se todos os alunos entenderam a atividade antes dela ser realizada – como sugerido anteriormente.
Mesmo assim, pode ser que a primeira repetição da atividade sirva apenas para se certificar se todos entenderam a proposta do que deve ser feito. Além disso, outra sugestão é que o professor reveze a borda (indicada como 2) na qual ele está localizado.
Assim, o professor explicaria algumas atividades (durante a aula) de um lado e outras do outro lado (as duas indicadas como posicionamento 2).
Caso o professor só possa assumir uma das bordas laterais, como indicado no esquema D (ainda na Figura 2), e dependendo da quantidade de alunos na turma, uma outra estratégia pode ser mudar o posicionamento dos alunos durante a aula.
Se o professor e os alunos sempre ficam no mesmo lugar (o que é muito comum), alguém pode estar sendo prejudicado. Direcione, às vezes, os alunos que ficam nas extremidades para o centro do grupo – caso você esteja de frente para os alunos.
Se você assume um posicionamento mais lateral (e não pode fazer isso dos dois lados da piscina), faça um rodízio de forma a permitir que os alunos que estão mais distantes também tenham a oportunidade de ficar mais próximos de você.
Essa estratégia, na verdade, serve para qualquer tipo de posicionamento adotado pelo professor. Ao longo das aulas os alunos tendem a ficar sempre no mesmo lugar. Se esse for um fator importante para a aprendizagem, mudar o lugar que os alunos estão pode ser interessante.
No posicionamento 3 (Figura 2, esquema C) o professor está de frente para os alunos, o que pode facilitar a percepção visual e a demonstração da atividade. Entretanto, dependendo da altura da voz do professor e do tamanho da piscina (e do barulho ambiente), pode ser que os alunos não consigam ouvi-lo com qualidade.
Todos os posicionamentos que o professor pode assumir estão associados a características positivas e negativas. Seria impossível tentar prever tudo o que pode acontecer durante uma aula e discutir cada um desses pormenores.
Assim, o que o professor deve fazer é pensar naquilo que ele precisa explicar naquele momento, nas características da piscina e da turma, para decidir qual é o melhor posicionamento que deve assumir. Ou seja, esse posicionamento pode variar muito ao longo de uma mesma aula.
Além disso, o professor não deve buscar um bom posicionamento somente para explicar a atividade, mas para ver a sua realização. Assim, pode ser que o melhor posicionamento para explicação seja um, mas para visualização da atividade seja outro.
No próximo texto a discussão será sobre as turmas de aperfeiçoamento.
É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.