A técnica no desempenho de jovens nadadores
Qual é a importância da técnica no desempenho de jovens nadadores?
Não há dúvidas de que o adequado desempenho esportivo é fruto do inter-relacionamento de muitas variáveis.
Nos jovens, além disso, deve-se levar em consideração fatores relacionados ao crescimento, desenvolvimento e maturação.
De qualquer forma, entre estas variáveis cita-se a importância da técnica. Creio que isso não seja novidade.
Entretanto, mesmo assim, vemos muitos treinadores preocupados somente com volume e intensidade de treino.
E essa constatação não se limita a natação.
A melhora no condicionamento físico pode trazer um aumento no desempenho a curto prazo, mas um prejuízo futuro se não estiver adequado as características do nadador e não for acompanhado de uma evolução técnica.
Outra característica que, por vezes, leva técnicos e atletas a não valorizarem o treino da técnica é que seu desenvolvimento é um processo moroso e que exige muito do atleta (repetição) e treinador (frequência e qualidade do feedback ao nadador).
O treino da técnica deve ser pensado no longo prazo
Por isso, muitas vezes, deixado de lado. Mas o treino da técnica deve ser pensada em longo prazo, em exercícios parciais e no próprio nado completo.
Com o objetivo de desenvolver um modelo de equação estrutural que representasse o desempenho de jovens nadadores, Morais et al. (2012) realizaram um estudo.
Foram consideradas variáveis de referência cinemáticas (mecânica de nado: velocidade de flutuação, comprimento de braçada e índice de braçada), antropométricas (área da mão e envergadura) e hidrodinâmicas (resistência ativa).
Nesse sentido, foram avaliados 114 jovens nadadores (de nível regional e nacional, sendo 73 meninos e 41 meninas – idade cronológica média de 12,31 ± 1,09 anos).
O desempenho tido como referência foi aquele obtido nos 100 m nado livre em competição (para maior detalhes da metodologia consultar o artigo original).
As medidas que apresentaram melhor correlação com o desempenho foram a envergadura (somente nos meninos), comprimento de braçada (considerando todos os indivíduos e os meninos e meninas separadamente) e o índice de braçada (considerando todos os indivíduos e os meninos e meninas separadamente).
Assim, os autores (Morais et al., 2012) concluíram que entre as variáveis analisadas, aquele que apresentou maior relação com o desempenho de jovens nadadores na natação foi o índice de braçada (medida que expressa a qualidade técnica do nadador para uma dada velocidade).
Por sua vez, o índice de braçada é dependente da alteração da velocidade (durante o nado), do comprimento de braçada, envergadura e resistência ativa.
Como conclusão os autores (Morais et al., 2012) destacam que foi possível estabelecer um modelo para explicar o desempenho dos jovens nadadores.
Os resultados sugerem que os fatores biomecânicos contribuem com cerca de 50% do desempenho quando considerado o grupo como único, 58% para os meninos e 62% para as meninas.
Assim, acredita-se que a melhor maneira de aumentar o desempenho seja por meio do aperfeiçoamento técnico, que terá como consequência um aumento na eficiência e otimização da posição hidrodinâmica.
O estudo de Lätt et al. (2010) apresenta resultados semelhantes e recomendo a leitura.
Conclusões
Ou seja, pensando no processo de treinamento em longo prazo, devem-se criar estratégias de melhora da técnica que levarão a um comprimento e índice de braçada adequados.
Mas deve-se ter atenção ao nado como um todo. Uma baixa qualidade técnica de braçada pode, por exemplo, dever-se a uma inadequada posição corporal devido a ineficiência da pernada. Devemos ainda tentar utilizar ao máximo do que a tecnologia tem a nosso favor.
Assim, a utilização da filmagem do movimento (que seja com o celular! – permitindo uma melhor análise qualitativa pelo técnico e visualização pelo atleta do seu erro), cronômetros e ferramentas que permitam a medida da frequência gestual com estimativa do comprimento e índice de braçada são muito importantes.
Mas pensem em coisas simples e práticas, pois precisamos de ferramentas que possam ser utilizadas no nosso dia a dia do treino.
Pense nisso!
Até a próxima e bons treinos.
Prof. Guilherme Tucher (tucher@guilhermetucher.com.br)
Esse artigo já havia sido publicado no site e foi atualizado para o dia 8 de agosto de 2020
Sugestão de leitura:
Lätt, E., Jürimäe, J., Mäestu, J., Purge, P., Rämson, R., Haljaste, K., . . . Jürimäe, T. (2010). Physiological, biomechanical and anthropometrical predictors of sprint swimming performance in adolescent swimmers. Journal of Sports Science & Medicine, 9(3), 398.
Morais, J. E., Jesus, S., Lopes, V., Garrido, N., Silva, A., & Marinho, D. (2012). Linking selected kinematic, anthropometric and hydrodynamic variables to young swimmer performance. Pediatric Exercise Science, 24(4), 649.
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