A difícil missão de formar atletas
Algumas leituras e experiências que fiz recentemente me fizeram refletir ainda mais o quão difícil é essa missão de formar um atleta.
Não me refiro somente a dar treino. Isso é relativamente fácil.
Todos já devem ter ouvido falar que o técnico é um pouco técnico-pai-irmão-psicólogo-amigo-incentivador e tantas outras funções.
Mas saber lidar de uma maneira adequada com atletas com experiências e expectativas tão diferentes não é uma tarefa fácil.
E nesse conjunto temos as expectativas do atleta, do clube, do técnico, da família, dos amigos, do namorado (a), da escola….é uma lista que não tem fim.
Não é de se espantar que bons atletas fujam do esporte por não saberem lidar com isso tudo.
Mudanças com os jovens
E como se não bastasse o estresse natural do ambiente competitivo tem-se ainda todas as mudanças naturais que ocorrem com o jovem em desenvolvimento.
O objetivo aqui não é discutir se a competição esportiva para os jovens é saudável ou não. Afinal de contas na própria escola há competição – quem não quer tirar a melhor nota da turma?
Mas nem por isso os pais deixam os filhos sem estudar por causa de uma nota ruim! O mesmo sentido pode ser dado a intervenção familiar.
Se adequada, trará bons resultados. Se ausente ou excessiva, pode trazer resultados negativos.
O problema é que existe uma linha tênue entre o adequado e o inadequado. E convenhamos!
Tem pais, e até mesmo técnicos, que exageram. Mas eles agem assim com a melhor das intenções.
Alguns estudos
Alguns estudos tem se preocupado em saber como o jovem reage ao ambiente competitivo.
E a resposta para seu início e manutenção na prática esportiva invariavelmente é a mesma: sentir prazer e se divertir no que faz.
Mesmo entre os mais velhos esse é um pré-requisito.
É lógico que motivos ligados a aceitação social, pessoal, e financeiro. Mas isso é depois e sempre passam pelo “sentir prazer”.
Para que este prazer pela prática esportiva esteja presente costumam-se avaliar variáveis relacionadas as características da modalidade, do treinador, a própria percepção de competência pessoal, de apoio familiar, de estresse e ameaça.
Mas como se não bastasse toda esta complexidade, a percepção das competências competitivas pessoais e do próprio ambiente mudam de acordo com a idade.
Por isso é importante conhecermos as características do atleta que estamos treinando. Inicialmente eles querem apenas se superar.
Depois começam as comparações com os coletas e a necessidade de aceitação. Cada etapa irá requerer uma intervenção diferente.
O que a literatura indica é que quando a atividade esportiva (em seu sentido mais amplo) não reforça os sentimentos de competência pessoal e a motivação, podem surgir problemas e consequências negativas – como o abandono esportivo.
Para finalizar
Para finalizar a ideia deste pequeno artigo, cito o e-mail que recebi esta semana da Swimming Australia (30/11/2012).
Das oito notícias do e-mail três delas destacavam o have fun. Divirta-se! Uma delas chamava os nadadores de todas as idades, níveis e aspirações (dos nadadores aos surfistas) a aproveitarem o verão de uma forma segura e divertida!
A questão aqui não é imitar a metodologia dos australianos ou americanos. Precisamos achar a nossa.
A proposta Brasileira que respeite nossa cultura e incentive as pessoas a praticarem natação.
Mas independente de qualquer coisa, uma natação divertida e prazerosa. Poucos serão campeões olímpicos. Isso é fato.
Mas muitos podem passar pela boa experiência de treinar, competir, vencer, perder, se superar, fazer amigos, conhecer novos lugares e transferir essas experiências para o seu dia a dia na vida adulta.
E é nossa tarefa (treinadores, pais, amigos, dirigentes) encararmos essa, talvez, difícil missão de formar atletas.
Essa notícia foi publicada originalmente em 7 de dezembro de 2012. Em função de sua relevância foi atualizada em 23 de agosto de 2020.
Sugestão de leitura:
CRUZ, José Fernando S. Azevedo ; GOMES, António Rui, ed. lit.- “Psicologia aplicada ao desporto e à actividade física : teoria, investigação e intervenção : actas do Encontro Internacional…, 1, Braga, 1997”. Braga : APPORT – Associação dos Psicólogos Portugueses, 1997. ISBN 972-97562-0-1. p. 292-317.