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PREOCUPAÇÕES QUE O PROFESSOR DE NATAÇÃO DEVE TER

Principais preocupações que o professor de natação deve ter ao ensinar os nados aos seus alunos

Introdução

Ensinar os nados competitivos na natação é um desafio que vai além da simples execução mecânica de movimentos. Requer planejamento, observação e o emprego de métodos pedagógicos adequados para cada aluno. Entre as preocupações centrais do professor estão não apenas a correta transmissão das técnicas, mas também a adequação do ensino ao nível de aprendizado, idade e objetivos de cada nadador. Este artigo explora as principais considerações que os educadores devem ter em mente durante esse processo, enfatizando abordagens práticas e embasadas cientificamente para o sucesso no ensino.

Desenvolvimento

No ensino dos nados competitivos, a primeira preocupação do professor deve ser garantir que compreendeu as características essenciais dos movimentos (do nadar). Isso inclui a segurança do movimento, sua eficácia para alcançar os objetivos esperados e sua eficiência (realizar o máximo com o mínimo de erros ou desperdícios). Por exemplo, para a pernada do nado crawl, suas ações básicas – começar o movimento no quadril, associando flexão de quadril com extensão de joelho e extensão de quadril com o joelho estendido, bem como a manutenção dos pés em flexão plantar – devem ser respeitadas, evitando movimentos inadequados, como tentar realizar a pernada com os pés em dorsiflexão, que são prejudiciais ao desempenho.

Além disso, é necessário diferenciar entre conteúdos procedimentais (os movimentos que devem ser realizados) e conceituais (a compreensão teórica dos movimentos). Um exemplo disso é ensinar não apenas como executar a braçada no nado crawl, mas também porque o posicionamento correto das mãos influencia na propulsão e no equilíbrio. Não é para levar os alunos para uma sala de aula para fazer essa explicação. Isso acontece durante a própria aula por meio das dicas e explicações simples que o professor pode passar ao aluno.

Outro ponto crítico é a ordenação do ensino. Um planejamento adequado define quais aspectos técnicos devem ser abordados em primeiro lugar, como começar pelo ensino da pernada e da posição corporal antes de avançar para a coordenação braço-perna e técnicas específicas de respiração. Para cada nado o professor deve determinar a sequência lógica para garantir a aprendizagem eficaz. Aqui no site eu já fiz essa discussão algumas vezes. Também há vários vídeos no meu canal do YouTube sobre o assunto.

Por fim, o uso de equipamentos auxiliares, como pranchas e nadadeiras, requer discernimento. Embora úteis em certos momentos, podem induzir erros posturais ou motores se mal-empregados. Por exemplo, o uso de pranchas pode alterar o equilíbrio do aluno na água, prejudicando sua posição corporal natural.

Aplicações Práticas

Na prática, os professores devem abordar o ensino com flexibilidade, adaptando métodos às necessidades e ao nível de cada aluno. Para iniciantes, incentivar a experimentação com diferentes posturas na água pode estimular o autoconhecimento corporal e a adaptação ao meio líquido – apesar dos professores terem uma proposta mais tradicional de já direcionar o aluno ao movimento tido como “correto”. Com nadadores mais avançados, a ênfase pode ser no refinamento das técnicas e no ajuste da coordenação motora por meio de repetições focadas em padrões ideais, mas sempre considerando suas particularidades.

A utilização de feedback também é essencial. Porém, deve ser controlado para evitar que o aluno se torne excessivamente dependente (ao retorno fornecido pelo professor) – busque estimular a percepção do aluno ao movimento que está realizando. Conforme evidenciado na lógica da dinâmica ecológica, proporcionar oportunidades de autorregulação e descoberta é essencial para a formação de nadadores autônomos e criativos, mesmo na natação competitiva.

Conclusão

O ensino da natação exige uma abordagem pedagógica cuidadosa, na qual os professores desempenham um papel vital como guias no processo de aprendizagem. Compreender os aspectos técnicos e organizacionais do ensino e buscar o equilíbrio entre instruções tradicionais e abordagens exploratórias pode fazer toda a diferença. Ao assegurar que os alunos dominem os fundamentos e construam habilidades de maneira progressiva, os educadores maximizam não apenas o desempenho técnico, mas também o prazer e a segurança na prática da natação.

Sugestão de leituras

GUIGNARD, B.; BUTTON, C.; DAVIDS, K.; SEIFERT, L. Education and transfer of water competencies: an ecological dynamics approach. European Physical Education Review, v. 26, n. 4, p. 938-953,  2020.

KNUDSON, D.; MORRISON, C. S. Análise qualitativa do movimento humano. 1. São Paulo, SP: Manole, 2001.

RIBEIRO, J.; DAVIDS, K.; SILVA, P.; COUTINHO, P.; BARREIRA, D.; GARGANTA, J. Talent development in sport requires athlete enrichment: contemporary insights from a nonlinear pedagogy and the athletic skills model. Sports Medicine, v. 51, p. 1115-1122,  2021.

É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.

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