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Erros comuns na AMA que você não pode cometer mais

Hoje nós vamos conversar sobre os erros mais comuns que são cometidos nas aulas de AMA.

Esse tema é uma sugestão do prof. Jader, que enviou uma mensagem para mim fazendo esse pedido e dos professores que estão no meu grupo do Telegram.

Se você quiser fazer parte do meu grupo é só escanear esse QR code.

INTRODUÇÃO

Ninguém acha que está errado até que perceba que está errado. Você acha que está indo na direção certa até que alguém te mostre um outro ponto de vista, uma outra possibilidade. E é isso eu pretendo fazer.

Eu tenho a certeza de que você faz o seu melhor. Mas será que você faz o melhor que pode ser feito?

Nessa nossa live eu vou apresentar os principais erros que eu vejo que são cometidos durante o ensino da AMA, para que você não volte a cometê-los. Eu tenho a certeza de que para alguns deles você nunca se atentou.

OBJETIVO

  1. Apresentar quais são os erros mais comuns realizados por professores de natação durante o ensino da AMA.
  2. Apresentar estratégias para que esses erros não sejam mais realizados

ERROS COMUNS NA AMA

A gente vai conversar sobre esses 15 erros! O professor erra quando…

  1. não tem claro qual é o objetivo da AMA.
  2. não sabe o que deve ensinar.
  3. não propõe um ensino contextualizado. 
  4. usa a AMA apenas como preparação para o ensino dos nados.
  5. não fica dentro da piscina ou não está preparado para isso.
  6. não explica para os pais o que é a AMA e qual é o seu objetivo.
  7. acha que adultos não precisam de AMA.
  8. não planeja o ensino da AMA em níveis.
  9. não sabe como fazer a progressão da dificuldade das tarefas.
  10. limita as experiências dos alunos aos conteúdos procedimentais.
  11. não entende que a AMA é fruto da exploração do ambiente aquático.
  12. não conhece os estilos de ensino.
  13. não sabe como tornar os conteúdos de ensino dos outros esportes e experiências aquáticas um conteúdo da AMA.
  14. não reconhece a importância da AMA dentro de uma proposta de TLP.
  15. não diferencia os conteúdos de ensino da AMA dos conteúdos de ensino dos nados.

Vamos discutir cada um desses erros para que eles não voltem a acontecer:

1. Não tem claro qual é o objetivo da AMA.

Afinal de contas, qual é o objetivo da fase de AMA? Seria apenas o de preparar os alunos para aprenderem os nados competitivos? Isso é muito pouco perto de todos os benefícios que os nossos alunos podem adquirir.

Resumidamente o objetivo da AMA é garantir autonomia e competência aquática, mas eu acrescento: em qualquer ambiente aquático, não somente na piscina.

Dessa maneira, devemos inserir na nossa rotina de ensino dos conteúdos da AMA, estratégias de atividades que considerem os diferentes locais de prática das atividades aquáticas – pois afinal de contas, a piscina é apenas um deles.

2. Não sabe o que deve ensinar.

A maior parte dos livros apresenta que o (i) equilíbrio, (ii) o controle da respiração e a (iii) propulsão são os conteúdos que devem ser ensinados na AMA. Sinceramente, isso é muito pouco. Pouco mesmo.

Eu já tenho trabalhado com a proposta dos seguintes conteúdos:

  1. Descoberta do meio aquático
    1. Conhecer o ambiente de prática
    2. Descontração facial
    3. Apneia voluntária
    4. Visão subaquática
  2. Flutuação
  3. Respiração
  4. Sustentação
  5. Deslize
  6. Salto
  7. Giro
  8. Propulsão

Todos esses conteúdos podem ser ensinados por meio de atividades simples, simples-complexas, combinadas e combinadas-complexas. Além disso, os conteúdos de outros esportes e experiências aquáticas podem ser acrescentados ao ensino desses conteúdos.

 

3. Não propõe um ensino contextualizado.

Por mais que os conteúdos de ensino da AMA sejam sempre os que citei, o ato concreto de ensinar deve considerar o seu contexto. Assim, quais são as condições do ambiente (como a profundidade da piscina)? A aula é para crianças, jovens ou adultos? Qual é a experiência desses alunos com o ambiente aquático? Quais são os objetivos que devem ser alcançados (e que dependem de um adequado planejamento)?

Até certo ponto essas questões podem ser facilmente resolvidas se você fizer o planejamento para o ensino das suas aulas de AMA. Durante o planejamento você precisa considerar o seu contexto. Se você errar na interpretação do contexto, erra no planejamento e erra na aplicação da aula.

4. Usa a AMA apenas como preparação para o ensino dos nados.

A AMA não deveria ser vista como uma etapa preparatória para o ensino dos nados. Ter essa percepção levará a uma subvalorização da própria AMA. A tendência é que ela seja extremamente curta, com pouca exploração do ambiente e das variedades de movimento, pois o objetivo será criar uma etapa preparatória para o ensino dos nados. Que geralmente acaba sendo muito curta.

Dessa maneira, se durante os nados o deslize é sempre feito com as duas mãos para frente e com os braços sobrepostos, por que na AMA deveríamos fazer algo diferente disso?

5. Não fica dentro da piscina ou não está preparado para isso.

Estar dentro da piscina nas aulas de AMA não é só uma questão de empatia com os alunos, mas também de segurança – praticamente uma obrigação. Não importa se estamos falando de crianças, de jovens ou de adultos. As crianças adoram quando o professor está na piscina.

Se você estiver dentro da piscina passará mais confiança aos alunos, será muito mais fácil de contribuir com a realização de algumas atividades e garantirá maior segurança – caso alguma eventualidade aconteça.

E não pense que isso é importante somente para as crianças, pois os adultos na fase de AMA têm praticamente as mesmas necessidades.

Além disso, como não estamos falando da realização de um movimento restrito e limitado – como é mais característico da época dos nados formais, não há a preocupação exagerada com a observação do movimento para percepção de erros e posterior sugestão de correções.

6. Não explica para os pais o que é a AMA e qual é o seu objetivo.

No entendimento da maior parte das pessoas o saber nadar se resume ao ensino dos nados formais. Por isso, quanto vêm as crianças “brincando” durante a aula, não tem a ideia clara de que estão aprendendo por meio de atividades lúdicas. Além disso, como não veem a reprodução de movimentos que têm em seus imaginários – e que estão relacionados aos movimentos dos nados, acham que o professor não está ensinando nada.

Por isso, temos a OBRIGAÇÃO – tanto professores quanto a escola de natação, de explicar para os pais a trajetória de aprendizagem da natação que seus filhos vão percorrer. Eles não têm a obrigação de entender o que é a AMA e qual é a sua importância. Só saberão isso se nós dissermos para eles.

7. Acha que adultos não precisam de AMA.

Erro muito comum. Uma pena. As pessoas precisam passar pela AMA não é por causa de sua idade, ou porque motoramente não estão preparadas para aprender um dos nados formais, mas porque estamos falando de um ambiente que é novo e que precisa ser conhecido pelo aprendiz. E quando eu digo aprendiz, não importa a sua idade. Então, apesar de geralmente pensarmos na idade, a variável mais importante que temos que analisar é a experiência na água (e todas as suas consequências).

Existem diversas diferenças de comportamento humano fora e dentro da água. Essa incapacidade motora momentânea no ambiente aquático gera frustração, medo, insegurança… e isso independe da idade. Por isso, quando recebermos um aluno, não importa a sua idade, se ele não estiver adaptado ao ambiente aquático, se lhe faltam experiências nesse novo ambiente, é nossa obrigação oferecer essas experiências.

8. Não planeja o ensino da AMA em níveis.

Eu tenho defendido que a AMA deva ser ensinada por muitos anos, mas isso só será possível se o ensino dos conteúdos for planejado. Ou seja, se todo o seu processo for dividido em níveis. Tem conteúdos da AMA que, em geral, são mais simples de serem aprendidos, como a descoberta do meio aquático. Mas lembre-se que para o aprendiz, para o iniciante, tudo é difícil.

Por outro lado, existem conteúdos que são mais difíceis. Os conteúdos de ensino mais fáceis devem estar nos primeiros níveis. Os conteúdos mais difíceis, nos níveis posteriores.

9. Não sabe como fazer a progressão da dificuldade das tarefas.

É muito comum que se ensine a AMA por pouco tempo porque o professor não entende como modificar a dificuldade da tarefa/atividade/exercício de aprendizagem. Assim, depois que o aluno experimenta algumas atividades – geralmente simples, o professor considera que ela está apta a aprender os nados.

Eu tenho proposto que as atividades podem ser classificadas como simples, simples-complexa, combinada e combinada-complexa. Uma atividade é simples quando ensinamos apenas um conteúdo de ensino. Geralmente isso acontece nas primeiras experiências com os conteúdos de ensino. Uma atividade é simples-complexa quando tornamos uma atividade simples um pouco mais difícil.

Uma atividade combinada acontece quando combinamos dois ou mais conteúdos em uma mesma atividade de aprendizagem (devendo se manifestar ao mesmo tempo ou consecutivamente). Uma atividade combinada-complexa acontece quando continuamos combinando conteúdos de ensino em uma mesma atividade, mas agora tendemos a ter uma maior exigência motora, cognitiva ou física.

Além disso, devemos entender que a necessidade ou exigência de uma atividade dependerá da combinação que se faz entre as características do indivíduo, do ambiente e da própria tarefa. Geralmente o professor sabe como modificar a característica da tarefa, mas não pensa em modificar as características do indivíduo ou do ambiente.

Para modificar “a tarefa” propriamente dita, devemos modificar a forma como ela é realizada: (i) aumentando a distância/tempo na qual ela deve ser realizada, (ii) a velocidade, (iii) a forma ou (iv) usando ou não um equipamento.

Para modificar “o indivíduo”, devemos modificar a maneira como ele participa da tarefa: (i) individualmente, em duplas ou grupos maiores, (ii) mudando sua posição corporal ou a(s) parte(s) do corpo que pode ser utilizada.

Para modificar “o ambiente” devemos modificar alguma característica do ambiente que vai influenciar na maneira como percepção de competência é vista. O mais óbvio seria oportunizar uma aula no mar, caso a turma esteja acostumada a só fazer aula em piscina – mas sabemos que isso é difícil para algumas realidades.

Então poderíamos pensar em: (i) oportunizar uma prática em uma piscina com profundidade diferente e (ii) gerar alterações na condição da água que geralmente são encontradas pelos aprendizes (correnteza, marolas, turbulências) quando estão em outros ambientes aquáticos.

10. Limita as experiências dos alunos aos conteúdos procedimentais.

Devemos ensinar os movimentos relacionadas ao “saber estar na água”, que são os conteúdos procedimentais. Entretanto, mais uma vez, só isso é muito pouco. Podemos e devemos ensinar também os conteúdos conceituais e atitudinais. Além disso, agregar as atividades e experiências na água, habilidades e competência gerais, que estão relacionadas aos conhecimentos gerais que as crianças precisam aprender, como: cores, números, figuras geométricas, letras, nomes de animais etc.

11. Não entende que a AMA é fruto da exploração do ambiente aquático.

No final das contas, eu entendo que o que queremos por meio das mais diversas atividades que propomos aos nossos alunos, é que eles explorem o ambiente aquático, e que essa exploração leve a aprendizagem. O que eu quero dizer com isso?

Não é o movimento por si só que nos interessa, mas a percepção corporal e a percepção e entendimento da consequência desse movimento. Explorar o ambiente é diferente de só fazer movimentos no ambiente. O que queremos é uma aprendizagem na água e pela água.

12. Não conhece os estilos de ensino.

Uma mesma atividade pode ser ensina, ou permitir uma exploração do ambiente de diferentes maneiras. O caminho que você, professor, escolhe para que isso aconteça se refere ao seu método. É muito comum que utilizemos os métodos mais centrados no professor, mas é muito importante que conheçamos estilos de ensino como de avaliação recíproca, descoberta orientada e resolução de problemas.

Esses são métodos que, no geral, permitem uma maior exploração do ambiente na busca das diversas maneiras, ou da melhor (se é que ela existe), para cumprir determinada tarefa. Para a AMA eles são excelentes e permitem justamente essa maior exploração e participação cognitiva.

 

13. Não sabe como tornar os conteúdos de ensino dos outros esportes e experiências aquáticas um conteúdo da AMA.

Outra estratégia que podemos e devemos usar para oportunizar uma AMA mais rica é pegar emprestado os conteúdos de ensino dos outros esportes e experiências aquáticas e torná-los conteúdos de ensino da AMA. Perceba que não vamos criar outros conteúdos, mas usá-los dentro dos que já existem. Basta identificá-los e decidir se eles estão mais próximos de uma atividade simples, simples-complexa, combinada ou combinada-complexa.

14. Não reconhece a importância da AMA dentro de uma proposta de TLP.

A AMA é importante inclusive dentro de um programa de formação de atletas. Existem diversos estudos que mostram que a especialização precoce, a monotonia dos estímulos das aulas/treinos e o volume de treino exagerado oferecidos no treinamento de crianças tem como consequência o abandono da modalidade. Não é isso que queremos.

Por isso, essa vivência ampla do ambiente aquático, com atividades variadas e de múltiplas possibilidades, além de garantir maior experiência motora (importante para uma especialização esportiva futura), está mais associada ao prazer na prática, na melhora do autoconceito e na permanência na prática do esporte.

15. Não diferencia os conteúdos de ensino da AMA dos conteúdos de ensino dos nados.

Os conteúdos de ensino da AMA estão mais voltados para uma experimentação livre do ambiente aquático. Espera-se garantir autonomia, confiança e segurança no ambiente aquático.

Essa aprendizagem não acontece somente por meio dos estímulos procedimentais, mas também conceituais e atitudinais.

Os conteúdos de ensino dos nados estão voltados para uma experimentação um pouco mais restrita dos movimentos no ambiente aquático. Espera-se garantir a aprendizagem dos movimentos socialmente construídos que representam os nados.

Apesar de isso parecer óbvio, na prática as coisas não são bem assim. Vou dar dois exemplos:

1 – Você pretende ensinar a virada dos nados Crawl e Costas. Com essa intenção, propõe uma série de exercícios voltados a aprendizagem do giro (da cambalhota). Por que isso está errado?

2 – Você pretende ensinar a saída de bloco. Com essa intenção, propõe exercícios para que o aluno perca o medo de pular da borda e do próprio bloco de partida. Por que isso está errado?

Essas atividades estão erradas porque, nos dois casos, as atividades propostas são, na verdade, para a AMA. Se o aluno não consegue fazer uma cambalhota, temos nitidamente uma falha da AMA – esse não é um conteúdo de ensino da virada. No ensino da virada devemos ensinar a virada e o giro é apenas uma parte.

Se o aluno se sente inseguro em pular na água, não consegue retornar a superfície e por isso sente medo… houve uma falha na AMA – perder o medo e desenvolver essas habilidades gerais não é um conteúdo da saída de bloco.

Por isso que devemos diferenciar claramente os conteúdos de ensino da AMA daqueles do ensino dos nados.

CONCLUSÃO

Eu espero que essa discussão tenha sido importante para você. Lembre-se de assistir também ao vídeo e de compartilhar esse material com outros professores.

Pense ainda na possiblidade de ser um apoiador do meu canal do YouTube. Você tem acesso a vários vídeos antecipadamente e a diversos outros vídeos que são exclusivos para assinantes.

Agora no dia 25 de outubro eu estarei no EIN em SP. No dia 23 de novembro eu participarei da Capacitação do Instituto Insporte, no RJ. E no dia 27 de novembro nós teremos a sexta edição do Seminário de Ciências dos Esportes Aquáticos, que será realizado na UERJ.

Se você for participar de alguns desses eventos, será um prazer poder conversar com você.

Grande abraço

Esses cursos podem ser do seu interesse:

É docente no curso de graduação e no programa e pós-graduação em educação física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na EEFD ainda é coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências dos Esportes Aquáticos (GPCEA).
Doutor em Ciências do Desporto (2015), Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2008), Especialista em Esporte de Alto Rendimento (2014), em Natação e Atividades Aquáticas (2004) e em Treinamento Desportivo (2005), e Graduado em Educação Física (2003).
Docente no ensino superior desde 2005, atuou ainda como professor de natação trabalhando com diferentes níveis de aprendizagem e aperfeiçoamento, bem como treinador de natação competitiva participando de campeonatos estaduais (RJ) e nacionais.

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