Entendendo e avaliando os jogos coletivos (parte 1)
Independente do nível de rendimento de uma equipe e se tratamos de um esporte individual ou coletivo, sempre há preocupação em se saber mais sobre os atletas e como eles se comportam durante a competição. Neste sentido pode-se citar a necessidade de conhecimento da capacidade técnica, física e tática de um atleta ou equipe. Se pensarmos na natação, a maior parte dos estudos está preocupada com o domínio técnico do movimento e o desenvolvimento das capacidades físico motoras (como a força e a velocidade, por exemplo). Entretanto, nos desportos coletivos, além do conhecimento destas capacidades, os estudos estão preocupados em determinar como as equipes se comportam taticamente. Qual o segredo do sucesso? Até mesmo o comportamento técnico dependerá da necessidade da situação do momento – diferente da natação. Não há como prever o que deve ser feito. Neste sentido, algumas metodologias de investigação foram elaboradas para tentar entender um coisa que é demasiadamente complexa: como uma equipe se organiza mediante as várias situações que podem ocorrem durante um jogo.
A análise do jogo ajuda a conhecer as características, regularidades e particularidades dos comportamentos dos jogadores e das equipes(1). Um dos maiores beneficiados com os resultados deste tipo de estudos é o técnico (a comissão técnica)(2). A preparação de uma equipe ocorre a partir das necessidades da competição. Sem se conhecer o que ocorre durante um jogo, como planejar e conduzir o treinamento? Se não se conhece as deficiências e virtudes de um atleta, o que ele deverá treinar? É justamente neste sentido que as investigações sobre a análise do jogo coletivo são realizadas. A partir das informações obtidas pode-se conhecer a eficiência dos jogadores e das equipes em diferentes situações(2).
Neste sentido, Garganta(2) aponta que a análise do desempenho nos jogos coletivos tem permitido, entre outros pontos, conhecer os comportamentos relacionados ao bom desempenho esportivo e consequentemente, tornar o treino mais específico. Creio que este seja o sonho de qualquer treinador, por isso a grande quantidade de estudos realizados com esta temática(2). No Polo Aquático não é diferente. Autores como Lupo, Tan, Platanou e Argudo tem realizado muitos estudos na modalidade (ver indicação de estudos no menu artigos). A tecnologia contribui com este processo. Da antiga recolha de dados com papel e caneta até alguns procedimentos atuais com GPS, muito tem sido feito. Essa modificação acelerou a obtenção dos dados. Alguns podem ser interpretados em tempo real. Mas não resolveu todos os problemas(2). O movimento humano é multiplanar, a movimentação dos jogadores é praticamente ilimitada e os jogos são não lineares(1).
Entretanto, a grande dificuldade que os estudos desta natureza encontram está na tentativa de entender uma coisa que é demasiadamente complexa(1-3). O comportamento de uma equipe é influenciado de diferentes maneiras por diferentes fatores. Um atleta pode influenciar o comportamento de todos os outros. Da mesma maneira a importância da competição ou a situação no placar. Então, como procurar um comportamento lógico e padronizado no meio do caos? A literatura acredita que existe uma lógica interna nos jogos coletivos que é padronizada quando eles ocorrem sob uma mesma condição(2). Mas isso não quer dizer que toda a partida ocorrerá conforme o “planejado”. Durante um mesmo jogo, situações diversas ocorrem e modificam o comportamento da equipe. Procura-se uma tendência. Um parâmetro. Não uma certeza ou critério rígido e fechado.
Em breve postarei o restante desta discussão.
Leituras sugeridas:
1. Marcelino R, Sampaio J, Mesquita I. Investigação centrada na análise do jogo: da modelação estática à modelação dinâmica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. 2011;11(1):481-99.
2. Garganta J. A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise do jogo. Revista Portuguesa de Ciências do desporto. 2001;1(1):57-64.
3. Watts DJ. Tudo é óbvio: desde que você saiba a resposta (como o senso comum nos engana). São Paulo: Paz e Terra; 2011.